terça-feira, 17 de setembro de 2013

Já estou acostumado

Quando foi a última vez que você deu um salto no escuro? Quando foi última vez que experimentou um sabor desconhecido? Qual foi a última vez que fez a experiência da novidade pelo simples fato de ser algo novo?

Quando se atinge certa estabilidade, as novidades vão ficando mais raras. O desconhecido só entra na nossa vida por indicação. A gente se acostuma com o que é previsível e acaba caindo no roteiro da rotina, da mesmice, da repetição.

Se você concorda comigo, sinto que a sua juventude está indo pro brejo. Os adultos são os que pensam assim. Eles é que estão acostumados. Eles é que tem as respostas (hahaha... que bobagem essa!!). Jovens são, por definição (se é que se pode definí-los), experimentadores, instáveis e caçadores das novidades. No entanto, há tanto jovem acostumado por aí...

Um pedido de um leitor do blog me motivou a escrever este texto. Ele me mandou um e-mail e pediu uma ajuda. Está à frente de um grupo de jovens, da base, mas não tem mais a técnica para trabalhar com eles. Em outras instâncias até teria mais facilidade, mas estes do grupo ele não consegue motivar. Chegou a fazer cursos, ler livros, tudo sem resultado. O que fazer?

Não é uma maravilha? Este é o grande lance de uma pastoral que mesmo tendo quarenta anos precisa se reinventar a cada réveillon. Cara, não tente tratar os jovens dos grupos da mesma forma como eram tratados há 40, 30, 10 ou 5 anos atrás. A mesma fórmula que funciona na paróquia vizinha pode não funcionar na sua. A sacada é o salto no escuro, é ter fé na turma que caminha contigo, é saber o caminho que vão traçar.

Não, isso não é o pagode do pejoteiro maluco. Não é qualquer coisa que vale. Não estou dizendo que precisamos fazer o que for, de qualquer jeito para que a solução venha. Não são os fins que justificam os meios. Claro que grupo da PJ tem identidade, tem planejamento, tem método, tem esquema de formação. Isto nos identifica, esteja você no Oiapoque ou no Chuí, em Boa Viagem ou no Pantanal. Isto nos identifica. Mas um grupo é sempre um desafio. Sempre! Tire, pois, este peso das suas costas.

Se você já sabe de tudo isso, tem o conhecimento dos textos pastorais, conforme mesmo disse, o ponto agora é se desestabilizar. Não se prenda a fórmulas. Antes delas está o jovem. Você conhece todas e todos? Visitou cada casa? Conhece os pais? Pense no que fazer para ter o cuidado com cada uma e cada um. Eles têm a necessidade de um grupo de que tipo? Para que querem se reunir? E onde entram os elementos pastorais neste desejo e nesta necessidade?

Entende? A sua experiência de cinco anos atrás, por exemplo, valia com os jovens de cinco anos atrás. Hoje, o que você já fez é só uma bagagem, para a qual você retorna para reciclar velhos mapas e rever um ou outro conceito. A sua experiência não é o seu roteiro. Você não queira fazer os jovens engolir aquilo que você sabe. É perigoso. Não forma liderança. Só um parêntese aqui: uma excelente forma de se reciclar é voltar para sua comunidade de origem e ser catequista de crisma. Você será obrigado a adaptar seu discurso e seu planejamento. As novas gerações exigem isso. Fecha o parêntese.

Não abandone os cursos, as leituras, os contatos. Eles valem para aguçar sua criatividade. Tomo isso por mim. Até hoje, se eu pegar um livro sobre planejamento empresarial, por exemplo, eu sei que vou pescar aqui e ali um conceito que poderei usar no meu trabalho pastoral, mesmo que sejam coisas completamente diferentes. Não abandonamos nossa identidade pastoral. Olhamos para todas as coisas, retemos aquilo que é bom. Criatividade. Este é o ponto.

Primeiro: Foco no jovem. Entendeu? Segundo: experiência criativamente reciclada. Sacou? Terceiro: espírito juvenil. Não se conforme, não se acostume, não ache que está suficiente ou que já basta. Quem se acostuma, quem se perpetua, quem se estabiliza, morre lentamente. Quem não se arrisca tem medo da ousadia, não vai com o seu barco muito além da margem. 

Por isso se diz que os jovens são revolucionários. Eles se arriscam. Eles querem ver as coisas de um jeito diferente. Eles não têm o pé na estabilidade. Cultivar este espírito juvenil independe da idade, mas depende da força de vontade. Tem que querer, não pode ter medo de errar.

Quarto e último ponto. Lembre-se de Jesus. Inspire-se sempre nele, pois ele focava no ser humano e na sua Missão. Volte seu olhar para ele, pois reciclou toda a experiência do seu povo para dizer que Deus é amor e que nós demos nos amar na mesma medida. Recheie o seu coração com o mesmo espírito juvenil daquele jovem de Nazaré que não se conformou com o mundo, que anunciou um Reino de justiça e paz e que pregou contra aqueles que não favoreciam a vida, em especial dos mais lascados do mundo.

Ele não se acostumou.
                                 Rogério Oliveira

Há que se cuidar do broto

Eu nunca fui atrás do significado original da música “Coração de Estudante”. E não é porque eu não goste de fazer isto, aliás gosto muito de ir atrás das raízes das músicas das quais eu gosto. Mas no caso desta canção, gosto dos múltiplos sentidos que ela me proporciona. Um deles tem a ver com o nosso trabalho pastoral.

Mas renova-se a esperança / Nova aurora, cada dia / E há que se cuidar do broto / Pra que a vida nos dê flor e fruto”. Não há como negar a importância dos brotos. Não há árvore que dure para sempre. Algumas podem até duram longos anos, mas não são a maioria. O cultivo das pequenas mudinhas garantiram alimentação e sobrevivência dos seres humanos e diversidade no universo agrícola.

E no nosso mundo pejoteiro, também não há como não fazer uma associação imediata aos "brotos", aos grupos de jovens. Eles estão esparramados e articulados pelo país; não há PJ que se sustente ou que se legitime sem eles. Não sou um “basista”, porque acredito que a PJ não é só grupos de base, mas não há como nenhum pejoteiro negar que eles são uma das peças principais deste mundo da PJ.

Há uma preocupação muito grande, demonstrada em vários documentos de diversas instâncias pastorais, a respeito dos grupos de jovens. Estão perdendo a identidade? Estão com integrantes desanimados? Durando menos do que poderiam? Sem maiores integrações? Há menos grupos hoje vivendo a experiência pejoteira? Que fazer? Só há uma resposta: É preciso fomentar e animar os grupos de jovens. É preciso cuidar do broto. Vamos partilhar algumas dicas? Eu começo:

Não há grupos de jovens. Por onde começar a convocação?
a)    A partir do crisma
Todos os anos muitos jovens recebem o sacramento da confirmação. Para a maior parte deles, há uma formação sistematizada. Uma boa alternativa é que jovens pejoteiros assumam esta catequese, incluindo entre os conteúdos obrigatórios aqueles ligados à ação pastoral e realizando os encontros formativos dentro da proposta da PJ.

b)    A partir de experiências culturais
Música, teatro e esportes costumam atrair muitos jovens. Se entre os agentes culturais que promovem estas práticas houver algum pejoteiro, há uma possibilidade aberta para uma articulação com os demais jovens extrapolando a experiência cultural.

c)    A partir de contatos nas escolas
Formar núcleos de PJE nas escolas públicas/particulares é também uma possibilidade de formação de grupos e de descoberta de boas lideranças. 

d)    A partir de encontros massivos de jovens
Encontros de jovens com Cristo, por exemplo, reúnem muitos jovens, mas não tem uma grande articulação no pós-encontro. Aí entraria a PJ na organização de pequenos grupos vindos dos encontros e fazendo uma parceria bem interessante.

Temos grupos, mas ele está bem desanimado. Que fazer?

a)    Capacitando novas coordenações
Veja alguns artigos a respeito deste tema. Clique aqui.

b)    Capacitando novos assessores
Veja alguns artigos a respeito deste tema. Clique aqui.

O que vocês acham? Há outras possibilidades? Deixe seu comentário aqui no artigo ou mande no twitter deste blog: @pejotando. Aguardo sua contribuição!
Rogerio Oliveira
Corrigindo o email anterior: pejotando.blogspot.com.br