quarta-feira, 28 de março de 2012

“Vem andar e voa…” – Coletivo de Juventude da Cáritas realiza seminário de planejamento‏

“Toda gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá
Vem andar e voa
Vem andar e voa”
Nos dias 22 e 23 de março jovens de todas as regiões do Brasil se reuniram na sede da Cáritas Brasileira, em Brasília (DF), para participarem do Seminário Nacional de Planejamento do Coletivo de Juventude da Rede Cáritas.
O eixo condutor do trabalho foi a discussão em torno de ações articuladas dentro do tema Juventude e Desenvolvimento Sustentável Solidário e Territorial (DSST). Na discussão do DSST foi proposta uma roda de conversa com as contribuições de Lourival Rodrigues e Marcelo Lemos, da Casa da Juventude (CAJU), Ademar Bertucci, do Secretariado Nacional da Cáritas e Thiesco Crisóstomo, secretário nacional da Pastoral da Juventude (PJ).
Um dos temas que também foram discutidos pelo coletivo foi a Cúpula dos Povos na Rio + 20. A cúpula é um evento organizado pela sociedade civil global que acontecerá entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro – paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20. Nesse momento Ivo Poletto, do Fórum Mudanças climáticas e Justiça Social contribuiu com as discussões.
VILAREJO
Logo depois do início do encontro, após almoço do dia 22, o encontro foi percebido como um espaço de vivência da mística da juventude, com o (re) conhecimento de cada uma e cada um que participava do espaço com a partilha de palavras de poesia. A idéia do coletivo constituído como um vilarejo, uma comunidade, perpassou todos os momentos do seminário e aproximou os que chegavam com sorrisos tímidos olhares curiosos.
Nos momentos de partilha da mística inicial, os sonhos de semear o mundo real era percebido como algo em comum, diante da diversidade de sotaques e semblantes. Entre os sonhos, o desejo de contribuir para que as juventudes que agem e/ou é atingidas por diversas ações da Cáritas possam compor esse coletivo com identidade e rosto e missão de Cáritas e que, organizada, possa assumir o papel de protagonista de sua história.
Durante à tarde do segundo dia de encontro, cada regional mostrou a definição de suas ações a partir das prioridades, objetivos e ações que foram definidas durante o Fórum Nacional, que aconteceu dos dias12 a14 de março e em conjunto realizamos o planejamento das ações do coletivo de juventude para o ano de 2012.
“Voltamos mais animados para o trabalho em nossos regionais, animando a juventude brasileira para construir um novo mundo, possível e necessário, pautado na igualdade, solidariedade e no respeito à pluralidade. Isso se dará a partir das ações que esse seminário nos provoca a realizar em nossas bases, sobretudo debatendo as política públicas e os direitos humanos da juventude, nossa participação enquanto Cáritas nas ações da Campanha Contra violência e extermínio de jovens, entre outras coisas”, afirma Leon Patrick, 20,  da Cáritas Regional Minas Gerais, sobre as motivações levadas do seminário.
Ainda falando sobre as expectativas geradas pelo encontro, Victória Holzbach, 21 da Cáritas Diocesana de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul afirma: “O encontro gerou, sem dúvida, uma perspectiva muito boa em relação ao trabalho da Cáritas com a juventude em todo o Brasil. No Rio Grande do Sul, por exemplo, estamos já planejando nosso trabalho a partir dos encaminhamentos provenientes desta reunião do Coletivo. Aqui no estado faremos encontros regionais e diocesanos para articular e aprofundar o processo de formação e engajamento da juventude nos trabalhos e ações desenvolvidos pela Cáritas.”
por Monyse Ravena, assessora de Comunicação da Cáritas Regional Ceará, e Fernanda Nalon, estagiária da Assessoria de Comunicação / Secretariado Nacional

A PEC 215 e o Palácio do Planalto

A PEC 215 e o Palácio do Planalto



Diante da indecente e maquiavelica postura adotada pela Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania da Câmara - CCJC, comandada pela bancada ruralista e apoio da bancada evangélica o Conselho Indigenista Missionário lança a seguinte nota Pública:







     NOTA PÚBLICA
A aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000 na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara Federal revela mais uma vez a força e a vontade dos ruralistas de transformar o Brasil num grande latifúndio e avançar sobre as terras de ocupação tradicional dos povos indígenas e quilombolas e áreas de conservação ambiental.


A classe ruralista festeja a aprovação como vitória, considerando-a um primeiro passo ao livre acesso às terras indígenas e quilombolas e à legalização de suas invasões. Quem, de fato, sai derrotado são os povos indígenas, quilombolas e o meio ambiente, sempre de novo lesados em seus direitos constitucionais.


Assistimos horrorizados a mais uma ofensiva em curso contra os povos indígenas e quilombolas. Para defender os seus interesses, os ruralistas não hesitam em colocar em cheque até as conquistas democráticas consagradas na Constituição de 1988. E o governo federal, lamentavelmente, prefere fazer a política do avestruz em vez de manifestar-se contrário e tomar uma posição inequívoca em favor dos parâmetros constitucionais contra a ditadura do agronegócio.


Aliados aos povos indígenas e quilombolas exigimos do governo federal que se posicione vigorosamente contra a PEC 215 e retome imediatamente e cumpra os processos administrativos e acelere as demarcações e homologações das áreas indígenas e quilombolas.



Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
Brasília, 23 de março de 2012







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Os jovens e a construção da autonomia. Um desafio. Entrevista especial com Hilário Dick


“A juventude quer vivência grupal. Nunca houve tanta busca dessa vivência como nos dias de hoje. Por outro lado, a essência da Igreja é ser comunidade (ecclesia). Não se entende uma Igreja que não seja e não promova a comunidade, o grupo. Por isso a juventude espera acolhida”, diz padre jesuíta.




Confira a entrevista.

A Igreja precisa possibilitar e incentivar aconstrução da autonomia. É a partir dessa percepção que Pe. Hilário Dick (foto) critica as práticas da Igreja e sua relação com a juventude. Para ele, a Jornada Mundial da Juventude – JMJ, evento católico que reúne o maior número de jovens em todo o mundo desde 1980, tem uma pedagogia que não conduz “à transformação social” e tampouco possibilita o protagonismo juvenil na Igreja. “Não se nega que um e outro jovem mude de valores, se ‘converta’, que descubra Jesus Cristo etc., mas poucos são os dados que fazem que o jovem descubra mais a realidade social ou, até mesmo, a própria realidade juvenil em termos mais amplos”. E complementa: “A maior prova disso está na observação de quem é o protagonista dasJornadas: quem fala? Quem decide? Quem ocupa o palco? De forma um tanto dura podemos dizer que a juventude das JMJ é uma massa de manobra da Igreja-Instituição”, provoca, em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail.




Em contato com a juventude há mais de 40 anos, ele assegura que, apesar das limitações, “a Igreja e a juventude se encontram: a Igreja naquilo que ela deveria ser e a juventude naquilo que ela sonha com uma instituição como aIgreja”.  E explica: “A juventude quer vivência grupal. Nunca houve tanta busca dessa vivência como nos dias de hoje. É falso dizer que a juventude não quer viver em grupo. Por outro lado, a essência da Igreja é ser comunidade(ecclesia). Não se entende uma Igreja que não seja e não promova a comunidade, o grupo. Por isso a juventude espera acolhida”. Para que esta aproximação seja possível, sugere, o trabalho pastoral com os jovens deve ser entendido como um processo, “que acontece no dia a dia, nos pequenos grupos que se encontram para relacionar-se, viver, estudar, enfrentar questões comuns, celebrar etc.”.





Hilário Dick é graduado em Teologia pela Pontifícia Faculdade do Colégio Máximo Cristo Rei, e em Filosofia e em Letras pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos  Unisinos. Mestre e doutor, também em Letras, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro  UFRJ, é coordenador do Observatório Juvenil do Vale/Unisinos. Entre seus vários livros publicados, citamos Gritos silenciados, mas evidentes: jovens construindo juventude na história (São Paulo: Loyola, 2003) e Cartas a neotéfilo – Conversas sobre assessoria para grupos de jovens (São Paulo: Loyola, 2005). Junto de Carmem Lucia Teixeira e Lourival Rodrigues da Silva publicou Juventude: acompanhamento e construção de autonomia. É autor do Cadernos IHU número 18, intitulado Discursos à Beira dos SinosA emergência de novos valores na juventude: o caso de São Leopoldo.





Confira a entrevista

 







IHU On-Line – Como o senhor avalia a trajetória da Jornada Mundial da Juventude – JMJ? A JMJ é uma apresentação da Igreja para os jovens ou revela o engajamento e a relação da juventude com a Igreja?





Hilário Dick  Quando é que podemos falar de “trajetória” de um evento? Basta ver as datas, o número de participantes, os locais, a reação da sociedade, a repercussão na Igreja, o preço do evento? Qualquer “movimentação” se caracteriza pelas preocupações que manifesta, pelas ideias que defende, pelas propostas que carrega. É mais do que um ajuntamento de datas, de número de participantes, de número de discursos ou “sermões” que se fizeram, de tipos de hinos que foram cantados etc. Por isso, somente com um estudo em profundidade poder-se-á falar de uma possível trajetória das JMJ.





Quanto à segunda parte da pergunta, as Jornadas Mundiais estão provando que elas são muito mais uma apresentação da Igreja para os jovens do que um engajamento dos jovens com a Igreja. A maior prova disso está na observação de quem é o protagonista das Jornadas: Quem fala? Quem decide? Quem ocupa o palco? De forma um tanto dura podemos dizer que a juventude das JMJ é uma massa de manobra da Igreja-Instituição. Assim como não se fala de Reino para esta juventude, insiste-se muito no amor à Igreja. Não podemos dizer que o seguimento de Jesus não é desenvolvido, mas não é o que as juventudes enxergam e ouvem de forma mais significativa.





IHU On-Line – Como explicar a receptividade da Jornada por parte dos jovens? Qual o significado desses eventos massivos? A JMJ tem um viés transformador?





Hilário Dick  Todo jovem gosta de viajar e de participar de um evento em que se encontram muitos jovens. Isso vale para dentro e fora da Igreja. O Papa João Paulo II, além de seu carisma no relacionamento com os jovens, foi transformado num “Papa Pop” como até cantam os Engenheiros do Havaí. Pelo caráter que tinham e têm as JMJ, os meios de comunicação não tiveram nem têm dificuldade em assumi-las.





Existem dois modos de trabalhar pastoralmente com os jovens: ou priorizando uma pastoral de eventos, de grandes concentrações, de movimentos massivos com muito marketing, muita visualidade etc., ou priorizando uma pastoral de processos, essa que acontece no dia a dia, nos pequenos grupos que se encontram para se relacionar, viver, estudar, enfrentar questões comuns, celebrar etc. A Igreja Católica está priorizando, nesse momento, de muitas formas, a pastoral de eventos. É em tal geografia que se situam as JMJ.





Pela pedagogia que se usa nas JMJ pode-se dizer que elas não levam à transformação social. Não se nega que um e outro jovem mude de valores, se “converta”, descobre Jesus Cristo etc., mas poucos são os dados que fazem que o jovem descubra mais a realidade social ou, até mesmo, a própria realidade juvenil em termos mais amplos. Basta recordar o significado que tiveram as mobilizações juvenis na Jornada Mundial de Madrid. A juventude fora da Igrejaparece que não existe...





IHU On-Line – Como construir, a partir dos movimentos de grupos, das pastorais da juventude, a autonomia dos jovens que participam da Igreja?





Hilário Dick  Critico a pedagogia, porque as JMJ não garantem a participação da juventude. Se houvesse e se possibilitasse real participação, haveria protagonismo juvenil. Só se constrói autonomia, personalidade, identidade numa boa participação, e uma boa participação significa uma boa organização, onde o protagonismo juvenil seja o exercício da autonomia etc. Podemos dizer que a autonomia é o tendão de Aquiles da Igreja porque se trata do exercício do poder. E a Igreja Católica, hoje e na história, tem muita dificuldade na vivência evangélica do poder. Isso vale para todos, também para o povo de Deus, em geral, e de modo especial para a juventude que vive a descoberta da liberdade (saindo do mundo da dependência), da participação e da autonomia. Esse aspecto fica evidente na forma como são vivenciadas as JMJ. Apesar disso, na teoria, o paradigma que a Igreja defende (assume?) é o da construção da autonomia. Uma das coisas que mais afasta a juventude da Igreja é a esquizofrenia, afirmando uma coisa e fazendo outra, na prática.





IHU On-Line – Em que consiste o projeto de revitalização da Pastoral da Juventude Latino-Americana? Em que medida é preciso revitalizar a ação pastoral?





Hilário Dick  É um atestado de sanidade e de saúde para qualquer instituição o fato de ter vontade de sempre se renovar. Ora, a Pastoral Juvenil Latino-Americana tem uma caminhada de 30 anos, fundamentada na construção daCivilização do Amor. As diretrizes dessa caminhada já mereceram várias reelaborações. A grande decisão da revitalização, falada e sonhada há mais tempo, foi a proposta assumida no 3º Congresso Latino-Americano, em 2010, na Venezuela. Trata-se de reforçar o espírito missionário da juventude, seguindo uma inspiração bíblica. A novidade foi a escolha dos lugares bíblicos alimentando essa revitalização, isto é, impulsionada por aquilo que é mais de Deus: o Evangelho. Vai sair, por isso, em breve, nova edição da obra Civilização do Amor com o subtítuloProjeto e Missão. A Conferência de Aparecida, embora não tenha dito algo novo neste campo da evangelização da juventude, não deixou de reforçar o que já se vinha fazendo, embora dificultando um aspecto fundamental: a articulação, considerada como o melhor instrumento para suscitar a formação de jovens caminhando para o empoderamento, a autonomia ou, então, o protagonismo. A revitalização é uma exigência da vida; também o é da ação pastoral. Uma das formas de sempre se renovar é saber alimentar-se da Palavra de Deus.





IHU On-Line – Na sua avaliação, a juventude está mais consciente do seu papel como ator social?





Hilário Dick  Toda a humanidade e também toda a juventude, com o decorrer da história, cresce em consciência social.  Assim como se descobrem e se conquistam novos direitos, também vão-se conquistando e descobrindo novos deveres. É arriscado dizer que a juventude, hoje, tem mais consciência. A juventude atual não é melhor nem pior que a juventude de outrora: ela é diferente. Assim como nos anos 1960 a juventude tentou fazer tudo o que fez sem TV, sem celular, sem internet, etc., a juventude de 2012 deve tentar fazer tudo o que pode com os auxílios que a técnica e a comunicação oferecem. Nos últimos tempos estamos vendo manifestações juvenis significativas em várias partes do mundo. Poderiam ser mais? Poderiam ser melhores? Ser ator social nem sempre é fácil. Assim como também não foi. O mundo dos adultos não quer e nem pode entregar, nas mãos da juventude, o protagonismo e a autonomia. Isso sempre será conquista e sempre será conflitivo.





IHU On-Line – Quais os limites e desafios da Igreja diante da Juventude?





Hilário Dick  O documento 85 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, desenvolvendo sua doutrina sobre a evangelização da juventude, chama-se Desafios e Perspectivas da Evangelização da Juventude. Não vou repetir o que está exposto nesse documento. Você faz, no entanto, outra pergunta, dizendo: "O que a juventude procura na Igreja e o que a Igreja tem para oferecer a esta juventude". Eu gostaria de responder às duas questões numa só resposta. Pensando bem, a Igreja e a juventude se encontram: a Igreja naquilo que ela deveria ser e a juventude naquilo que ela sonha com uma instituição como a Igreja. Acentuaria cinco aspectos:





1) a juventude quer vivência grupal. Nunca houve tanta busca dessa vivência como nos dias de hoje. É falso dizer que a juventude não quer viver em grupo. Por outro lado, a essência da Igreja é ser comunidade (ecclesia). Não se entende uma Igreja que não seja e não promova a comunidade, o grupo. Por isso a juventude espera acolhida;





2) a juventude espera ser reconhecida em sua realidade concreta. A Igreja, por sua vez, que não se encarna nas diferentes realidades onde deseja anunciar a Boa Nova, não é a Igreja de Jesus Cristo que se encarnou. É nessa inserção que nasce o profetismo e a juventude deseja uma Igreja profética;





3) a juventude quer ser ela mesma, quer deixar de ser massa para ser povo, isto é, um segmento organizado. Por outro lado, na Igreja, a pastoral orgânica e a colegialidade episcopal fazem parte de seu ser. É só na organização que a juventude vai construir a sua autonomia e seu protagonismo. Não há outro instrumento;





4) a Igreja tem consciência de que ela, como Deus, deve ser acompanhante. Nas últimas Diretrizes Gerais da CNBB, os bispos até dizem que a Igreja é a casa da iniciação cristã. A juventude não quer caminhar sozinha; ela sonha com a presença de alguém que saiba ser “companheiro”, alguém que, com ela, coma do mesmo pão. Portanto, as duas vocações se encontram;





5) a juventude sonha com uma formação que seja integral, que a ajude em todas as suas dimensões. Um dos maiores vazios que ela sente é a ausência destes/as companheiros. Por outro lado, a Igreja diz nas suas Diretrizesque ela é e deseja ser uma Igreja a serviço da vida plena para todos. Por isso que afirmamos que não é grande a distância entre a Igreja e a juventude.





Voltando às JMJ, devemos ter presente essas realidades por parte da Igreja (instituição) e por parte da juventude. Se for grande a distância entre os sonhos e as vocações, o diálogo será mais difícil.





IHU On-Line – Quais os desafios de passar de uma igreja episcopal para uma igreja ministerial?





Hilário Dick – A pergunta é simples e complexa. Suponho que a pergunta pense “igreja episcopal” como aquela onde os bispos “mandam” demais, esquecendo-se que também fazem parte do “povo de Deus”. Infelizmente estas contradições também acontecem na Igreja: esquecer-se de sua identidade... A reflexão que desejaria fazer refere-se a uma das doenças de nossa Igreja: o clericalismo. No clericalismo o “leigo” está de um lado, na parte que não decide, que recebe ordens; quem decide é o clero. Um dualismo que não tem sentido, mas que é muito forte em toda a parte, também no trabalho com a juventude. Parece que se tem medo de estar próximo, de perder a autoridade. Isso pode ser visto igualmente nas JMJ. Nem o padre nem o bispo deixam de ser o que são se forem capazes de se misturarem com a juventude, nem quando deixam que a juventude entre no “comando” das grandes plenárias, das grandes concentrações etc. Clero e pastores devem convencer-se de que, embora a “autoridade” seja algo que venha de “fora”, antes de tudo ela é algo que vem de “dentro”, onde todos são “povo de Deus”. É muito estranho que o discurso da “aparência” esteja tão forte em nossa Igreja. É preciso voltar à simplicidade que aprendemos com Jesus de Nazaré.





O triste é que a ostentação reforça o clericalismo; ela não aproxima. Além disso, esmaga, oprime, provoca uma cisão. É um “encanto” perigoso. Saber ser próximo da juventude e do povo é uma graça, mas é igualmente uma conquista, fruto de estudo, leitura, presença, pesquisa, observação, abertura à novidade. As JMJ serão ações de aproximação quando o espírito de Jesus de Nazaré se manifestar, também, nestas grandes concentrações.





IHU On-Line – O que espera da visita do Papa ao Brasil no próximo ano, quando participará da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro?





Hilário Dick  Deixemo-lo primeiramente vir. Claro que é bem-vindo. O povo brasileiro e a juventude brasileira vão estar de festa. Depois, talvez, possamos fazer uma avaliação. Sonhamos, contudo, que nosso Papa não deixe de estimular a juventude do mundo para que sejam uma novidade no seguimento a Jesus Cristo, indo além das sacristias e dos templos, proclamando o Reino de Deus e não só incentivando o amor à Igreja.





(Por Patricia Fachin)






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COMO PARTICIPAR DA VIGÍLIA PASCAL - IONE BUYST

COMO PARTICIPAR DA VIGÍLIA PASCAL - IONE BUYST
1. Luzes
Noite, escuridão, trevas. Quantas vezes, este ano, passei momentos de escuridão, momentos de angústia, momentos de desânimo, momentos de não compreender o sentido da vida, o sentido do meu trabalho, da convivência... Quantos acontecimentos nos deixaram perplexos: inundações; tsunamis; terremotos; assassinato de indígenas e lavradores para ficar com suas terras; acidentes de trânsito; violência; desentendimentos na família, entre amigos, no trabalho... Quantas pessoas em dificuldade... Quanta desigualdade... Quanta indiferença com a miséria das outras pessoas... 

Mas nesta noite, no meio da escuridão, acenderemos uma luz, a luz do círio pascal e pediremos: A luz de Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas de nosso coração e de nossa mente! E caminharemos seguindo esta luz e acenderemos nossas velas neste círio e cantaremos: Luz de Cristo! Graças a Deus! E a esperança irá crescendo em nosso coração enquanto entraremos em procissão no local da celebração, e enquanto ouviremos o ‘Exulte de alegria...’ e juntaremos nossas vozes no canto do refrão ‘Bendito seja o Cristo Senhor, que é do Pai imortal esplendor!’ E sonharemos com um mundo renovado, iluminado. 

2. Contando uma longa história: um povo a caminho 
Não estamos sós. Fazemos parte de um povo a caminho e que vem de muito longe, do princípio do mundo, quando Deus criou o céu e a terra e todos os seres que a povoam, inclusive nós, os seres humanos, de todos os povos e culturas. Escutamos reverentes o relato bíblico da criação, do livro Gênesis. E reconhecemos agradecidos: Quando tu, Senhor, teu Espírito envias, todo mundo renasce, é grande alegria!! E entendemos que na ressurreição de Cristo, o mundo foi recriado na esperança. 

Somos um povo abraâmico, que vive pela fé em meio às tendas no deserto, sempre pronto para retomar o caminho, procurando novas chances de viver. Fomos parar no Egito; conhecemos a acolhida de um povo estranho e, depois, a dura escravidão. E ouvimos o chamado de ‘Eu Sou’ que falou com Moisés na sarça ardente e mandou seu povo eleito caminhar, deserto adentro, em busca de libertação. Ele abriu o Mar Vermelho que ameaçava nos engolir quando fugíamos das tropas do exército opressor. E fomos salvos, passando no meio do mar, a pé enxuto, como conta o livro do Êxodo. E entendemos que Jesus, em sua morte de cruz, passou pelas águas da angústia e do sentimento de abandono por parte de Deus, mas foi salvo pelo Pai e nos leva consigo, em sua ressurreição. E na carta aos romanos Paulo insiste em dizer que nas águas do batismo seguimos o mesmo caminho: somos sepultados com Cristo em sua morte, para ressuscitar com ele para uma vida nova. Mas, antes, as palavras dos profetas nos animam com a promessa da nova aliança, do casamento com o Esposo, do banquete oferecido gratuitamente, com a volta à fonte da sabedoria, com a promessa da purificação pelas águas e a doação de um novo coração e um espírito novo que nos torna capazes de seguir o Senhor.

E quando explode o solene Aleluia e nos é proclamado o evangelho da ressurreição de Jesus, na madrugada do primeiro dia da semana, sabemos que o Cristo nos precede nas ‘galiléias’ da vida e que lá o encontraremos, no meio dos irmãos e irmãs, unindo os corações, cuidando as feridas, saciando fomes e sedes, lutando por igualdade social, ensinando o caminho da vida, cantando salmos, realizando o lava-pés, partilhando pão e vinho... 

3. Travessia: passando pelas águas
Reunidos ao redor da fonte batismal, acolhemos novos irmãos e irmãs na fé que, devidamente preparados num caminho catecumenal, irão passar pelas águas do batismo, serão confirmados com o santo crisma e participarão pela primeira vez conosco na ceia do Senhor. Desta forma, serão ‘in-corpo-rados’ no povo de Deus, na comunidade dos discípulos e discípulas de Cristo. Este fato me afeta pessoalmente, profundamente: somos membros uns dos outros, como partes de um mesmo corpo. Estamos unidos pelo mesmo Espírito do Cristo, para nos amar como ele nos amou. Somos enviados juntos em missão para renovar a vida em sociedade. 

Com uma ladainha, invocamos a presença e a ajuda dos santos e santas que nos precederam no caminho de Jesus, e pedimos insistentemente ao Senhor que nos livre do mal e nos liberte pela morte e ressurreição de Jesus e, pela força do Espírito, dê vida nova às pessoas que serão batizadas. 

Vejo a água da fonte batismal. Ouço, atentamente e agradecida, as palavras da bênção, evocando o sentido desta fonte: recordando as águas da criação, as águas do dilúvio, as águas do Mar Vermelho, a água do Jordão no batismo de Jesus e a água que saiu do lado dele quando estava morrendo na cruz, e as palavras do Ressuscitado enviando os apóstolos para fazer discípulos e batizar todos os povos... 

Junto-me interiormente aos gestos e às palavras do presbítero: mergulha o círio pascal na água e, em nosso nome, pede insistentemente ao Pai que, por seu Filho Jesus, desça sobre esta água a força do Espírito Santo e ressuscite as pessoas que aceitam e arriscam fazer a travessia, deixando-se batizar para iniciar uma vida nova, pautada no evangelho de Jesus. Mas, antes de entrar nas águas do batismo, é preciso renunciar à maneira antiga de viver e, em seguida, proclamar a fé em Deus, Pai e Filho e Espírito Santo. Saindo das águas, começa uma vida nova, na comunidade dos seguidores de Jesus Cristo. 

Também nós que fomos batizados há muitos anos, renovamos nesta noite santa nossa renúncia e nossa profissão de fé e somos aspergidos novamente com a água batismal, sinal de nossa participação na morte e ressurreição de Jesus. Banhados em Cristo, somos uma nova criatura; as coisas antigas já se passaram: somos nascidos de novo. Aleluia, aleluia, aleluia! E a alegria toma conta de nossos corpos e corações. E, então, só nos resta pedir intensamente, (encarecidamente?), por nós, pela Igreja, e pelo mundo inteiro, unindo-nos à prece de Jesus que sempre intercede por todos nós junto do Pai. E, pela primeira vez, os novos batizados participam desta prece, como membros do povo sacerdotal. Venha o vosso reino, Senhor! Reino de paz e de justiça, reino de vida e verdade para o mundo inteiro. Venha renovar nossas vidas, nossas sociedades, nossas culturas...

4. Ao redor da Mesa do Pão e do Vinho: formamos um só Corpo, em Cristo
Pão e vinho são partilhados como Ele fez naquela ceia derradeira, entre ação de graças e súplica, deixando claro o sentido de sua entrega, de seu martírio, de sua morte decidida judicialmente: fidelidade ao projeto do Pai, solidariedade total com os irmãos e irmãs. Vida entregue, por amor. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão. Doação fecunda que deve se prolongar na vida de cada pessoa que participa desta ceia: Tomem, comam e bebam...; tornem-se um só comigo – eu em vocês e vocês em mim – para continuarmos, juntos, sendo um só Corpo e um só Espírito, o trabalho por um mundo melhor, a serviço do Reino que há de vir... Não tenham medo! Eu estarei com vocês. Aleluia! E, pela primeira vez, os novos batizados participam da procissão das oferendas, da ação de graças e oferta do sacrifício, da oração do pai-nosso e da comunhão eucarística no Pão e no Vinho. E com a bênção de Deus aceitamos, juntos, o desafio da missão, em nome de Jesus. É páscoa: passagem, transformação, travessia.

Participar da Vigília Pascal supõe:

• Preparar-se para esta grande festa durante os 40 dias da quaresma, participando intensamente das liturgias, intensificando a leitura da sagrada escritura, a oração, o jejum, a solidariedade, a Campanha da Fraternidade, a mudança de vida. Mudai de vida, mudai, convertei-vos de coração...

• Aprofundar de antemão (alguns) textos bíblicos e litúrgicos da Vigília, com leitura orante, sozinho ou em pequeno grupo... Se possível, participar de uma reunião de preparação ou ler algum texto sobre o sentido desta celebração mais importante do ano litúrgico.

• Participar dos ensaios dos cantos, perscrutando sua mensagem profunda e deixando-nos transformar interiormente.

• Envolver-se na preparação prática da celebração, como por exemplo: limpar e organizar o local da celebração; preparar todo o necessário para a fogueira, o círio pascal e as velas para a celebração da luz; preparar todo o necessário para as incensações; encarregar-se das flores; preparar a estante da Palavra e a fonte (ou pia) batismal; fazer pães ázimos para a eucaristia...

• Se for o caso, assumir algum ministério e preparar-se para tal: acolhida, leitura, salmo, canto..., acendimento da fogueira, organização das procissões, distribuição da comunhão...

• Aguardar, com profundo desejo do coração, o dia e o momento da santa páscoa, intensificando-o no sábado santo, até o início da vigília. Preparar o coração e uma roupa de festa!

• Juntar-se a todo o povo reunido, sentir-se parte integrante, consciente de que estamos ali por convocação do próprio Deus. Agir, cantar e orar a uma só voz, de um só coração, de uma só alma. 

• Acompanhar com cada fibra de nosso ser (corpo, mente, coração, espírito) a liturgia da luz, da Palavra, do batismo, da eucaristia. Ver as pessoas, os gestos, cada ação simbólica... como se fosse pela primeira vez. Ouvir cada canto, cada passagem bíblica, cada oração..., com o ouvido do coração. Cheirar o incenso e as flores como que para inebriar a alma. Entregar-se à ação de Deus; deixar o Cristo Ressuscitado agir em nós; deixar-nos tocar por seu Espírito, através das ações rituais, renovando, transformando, fazendo nos passar da morte para a vida, do desânimo para a coragem, da indiferença para a disponibilidade do amor, do individualismo para uma relação profunda entre as pessoas... 

• Guardar o coração em festa durante todo o tempo pascal, até a festa de Pentecostes...

Ione Buyst, doutora em liturgia, autora de muitos livros e artigos tanto no campo acadêmico quanto no campo pastoral e popular. Atua na formação litúrgica como professora universitária e como assessora em encontros de formação e retiros. Membro da Rede Celebra de animação litúrgica.