quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Quais podridões da realidade juvenil que não temos coragem de cheirar?




“Senhor, já está cheirando mal”.
João 11, 39

A caminho de Jerusalém, na causa do Reino e no compromisso com a vida da juventude, estamos com Jesus e com os/as jovens em Betânia. Betânia nos acolhe, nos envia e nos provoca.
Em tempos de conversão, tempo de quaresma, somos muito provocados/as por Betânia e por aquilo que Jesus ali viveu. A Igreja do Brasil vive intensamente o tempo da Campanha da Fraternidade que assume a juventude como temática e quer refletir sobre Fraternidade e Juventude. Nesse sentido, desde a casa de Betânia, temos a certeza que a Campanha é algo que deve nos converter a todos, e também a Igreja. É tempo de olharmos para a realidade juvenil com mais profundidade, com mais sensibilidade, para além de querermos “mais jovens na missa”. José Lisboa Moreira de Oliveira, em artigo recente para a Revista IHU (Instituto Humanitas Unisinos) mexe numa ferida podre que é de todos nós: “querem apenas jovens drogados espirituais que estejam tão ocupados com as ‘coisas de Deus’, a ponto de não enxergarem a realidade. Jovens que não leiam os sinais dos tempos. Querem jovens que não saibam perceber a vontade e a ação de Deus no meio das contradições da história humana. Neste momento em que se percebe na Igreja Católica um vazio de autoridade, no senso evangélico da expressão (Mc 1,22), e a presença de um autoritarismo anti-evangélico terrificante e desumano (1Pd 5,3), é hora de realizarmos uma Campanha da Fraternidade mais séria.”
Sabendo da morte de Lázaro, Jesus se coloca a caminho. Comove-se. Chora. Jesus age para que a vida seja respeitada e garantida. No caminho, Jesus se depara com uma situação delicada. Já se vão quatro dias desde a morte de seu amigo. E como tal, o corpo já está em decomposição e cheira mal. Quando Jesus pede para que abram o túmulo ele é avisado: “Senhor, já está cheirando mal.” Mesmo sabendo disso, Jesus insiste para que a pedra seja retirada. A podridão e o mau cheiro não impediram Jesus. Nada impediu ação de Jesus para a restauração da vida.
Em tempos em que estamos a caminho de Jerusalém com Jesus e com os/as jovens. Em tempo de quaresma que deseja provocar sempre mais nossa conversão para seguirmos cada vez mais fiéis a Jesus e a seu projeto do Reino. Em tempos de Campanha da Fraternidade sobre juventude. Em tempos que nos aproximamos da Jornada mundial da Juventude que será celebrada no Brasil. Em tempos de revitalização da PJ. A atitude de Jesus, em Betânia, nos convoca a refletirmos sobre as podridões do mundo juvenil que não podemos deixar de cheirar.
Quais as realidades juvenis de nossa América Latina estão podres? Quais realidades estão cheirando mal? Quais podridões e realidades que ainda não nos dispusemos a ver? Quais realidades juvenis sabemos, mas preferimos fazer de conta que não sabemos? De quais realidades e lugares juvenis temos fugido? Ou ainda poderíamos mudar o movimento da pergunta: Que podridões, em todos os sentidos, são oferecidas a juventude? Violência. Morte. Drogas. Prostituição. Acidentes. Racismo. Desemprego. Banalização do corpo. Consumismo. Hedonismo. Isso tudo cheira mal e há quem queira desviar o olhar, o corpo, o nariz.
Atitude de Jesus diante da morte de seu amigo nos desafia a enfrentar todas as podridões do mundo juvenil em nossa América Latina para assim garantimos que a vida tenha a palavra final. Como seguidores/as de Jesus e como Igreja Jovem em nosso Continente se desejamos ser fieis ao Reino e à causa da juventude devemos encarar o mau cheiro e as diversas realidades marcadas pela podridão.
Oxalá sejamos profetas/profetizas e não tenhamos medo de encarar o podre presentes no mundo juvenil. Oxalá sigamos a atitude de Jesus. Oxalá marchemos sempre para que a vida tenham a palavra final. É isso que Betânia nos convoca neste tempo de quaresma e de Campanha da Fraternidade. Nós respondemos: “Eis-me aqui, envia-me as podridões, a todos os espaços em que a vida da juventude está em risco”.


Pe Maicon André Malacarne – Assessor da Pastoral da Juventude – Diocese de Erexim-RS

1ª ROMARIA MISSIONÁRIA




CONVITE

Aproveitando a ocasião em que celebramos os 90 anos de nascimento de padre José Comblin, realizaremos a 1ª ROMARIA MISSIONÁRIA ao Santuário Padre Ibiapina – Arara-Solânea, Paraíba de 15 a 17 de março de 2013.

Será grande encontro dos que fazem as Escolas de Formação Missionária por ele fundadas e todos aqueles que beberam nessas fontes e se sentiram inspirados pelo seu testemunho  pelos seus ensinamentos.

Sua presença alegrará o nosso coração!

Padre José dizia: “Padre Ibiapina foi sem dúvida o maior missionário do interior do Nordeste”, contribuindo muito para recuperar o modelo desse grande missionário e foi sepultado ao lado do padre mestre Ibiapina. Sabemos que a memória se alimenta pelo testemunho de pessoas que assimilaram seus ensinamentos. Por isso, nada melhor para nós, romeiros missionários, renovar nessas fontes tão inspiradoras, nosso vigor e ardor para seguir na Missão evangelizadora entre o povo nordestino!

Confira a programação em anexo.

Querido irmão, querida irmã, desde já seja muito BEM VINDO! Muito BEM VINDA!

Monica Maria Muggler (Escolas de Formação Missionária)
Pe. José Floren (Reitor do Santuário Padre Ibiapina)

Confirmar a participação com monicamuggler@gmail.com – (83) 8175-3225 padrefloren@yahoo.com.br – (83) 9997-1304.


CONVITE


INSCRIÇÃO


PROGRAMAÇÃO




Depoimento vocacional





otvioOtávio Beralda é um jovem adulto que sempre sonhou em ser Padre. Desde a sua infância, esse sempre foi o seu maior sonho. Após uma infância simples e uma juventude dedicada ao trabalho e ao autoconhecimento, aos 28 anos entrou para o Seminário Diocesano, onde cursou Filosofia, Teologia e se dedicou na concretização de seu sonho.
“Nasci no dia 17 de dezembro de 1976, na cidade de Campo Grande, no então Estado de Mato Grosso, hoje meu querido Mato Grosso do Sul. Sou o caçula de sete filhos do casal simples, Sr. Jovelino Neves de Jesus e Sra. Clementina Beralda Neves. Meu pai nasceu em Alto Araguaia – MT, em 1937, homem simples de descendência baiana que sempre trabalhou na lavoura, de personalidade forte e sempre se preocupou em criar seus filhos para enfrentar o mundo com simplicidade. Minha mãe, de família mineira, nasceu em Frutal – MG, em 1945, vindo aos 7 anos de idade para Inhaus – GO, ficando lá até sua juventude. Mudou-se com seus pais para Pedro Gomes – MS, onde conheceu meu pai e se casaram. Após alguns anos de casamento mudaram-se para Campo Grande –MS, onde nasceram os últimos três filhos.
Nasci e passei minha infância no bairro “Moreninha 1”, hoje conhecido como Cidade Morena. Fiz catequese naquela comunidade que hoje é a Paróquia Nossa Senhora Aparecida das Moreninhas. Vi a construção daquela tão amada Igreja.
Aos 10 anos, minha família mudou-se para o Estado de Rondônia, onde permanecemos por 9 anos. Em decorrência dos inúmeros casos de malária, retornamos para Mato Grosso do Sul em 1994, residindo em Coxim. Servi ao Exército Brasileiro naquela cidade, após a baixa dos serviços militares vim morar em Campo Grande, minha cidade natal, onde consegui meu primeiro emprego, de “gari” popularmente conhecido com “lixeiro”.
Com muito sacrifício comprei um terreno e construí uma pequena moradia no Bairro Tijuca 2, onde conheci a comunidade São Paulo Apóstolo, pertencente à Paróquia Maria Mãe da Igreja, tendo como pároco na época o Pe. Orlando Cáceres.
Recebi o chamado de Deus ainda muito novo, em minha infância, porém, entrar para o Seminário requeria recursos financeiros os quais minha família não possuía. Minha mãe procurou os Salesianos para que eu pudesse estudar e um dia me tornar Padre, porém os recursos da família não eram bons. Coube ao meu pai tirar essa ideia dos meus pensamentos, e para isso disse uma frase que ficou marcada em minha vida: “Seminário, lá é lugar onde o filho chora e a mãe não escuta”. Com isso em mente fui crescendo e tirando da cabeça o desejo de me tornar Sacerdote.
Durante a juventude sempre participei da Santa Missa. Mas um dia, ao participar da missa na comunidade São Paulo Apóstolo, voltou aquele desejo que tinha quando criança. Procurei um seminarista, hoje o Pe. Ednaldo, que me encaminhou para o Padre Fabiano, na época pároco da Paróquia Cristo Bom Pastor. Com ele fiz meus primeiros encontros vocacionais, preparando-me durante 4 anos para depois  ingressar no Seminário, em 2004.
Após meus estudos nos Seminários (Filosofia e Teologia), me dediquei ao estágio pastoral, passei pelas Paróquias Coração Eucarístico e Nossa Senhora das Graças. Em março de 2012, Dom Dimas enviou-me para trabalhar no Assentamento Patagônia, em Terenos, onde estou até hoje, com alegria, fé e esperança. Trabalhar com o povo do assentamento e região me fez perceber como preciso ser mais missionário. Estar junto com aquele povo, caminhar com eles, participar com eles do Banquete Maior, me fez muito mais feliz. Uma experiência, um presente dos mais valiosos que ganhei do meu Bispo um, um grande tesouro onde seu valor não tem fim, que é aquele povo simples, humilde e cheio de esperança. Estar com eles é caminhar verdadeiramente em Cristo.
Como lema para minha ordenação diaconal escolhi o Evangelho de Lucas, capítulo 1 Versículo 49, que diz: “O Senhor fez em mim maravilhas.” Observando minha vida, minha historia, de como foi difícil chegar até aqui, me recordo do povo de Israel e da Bem Aventurada Virgem Maria. Quantas maravilhas fez o nosso Deus na vida de seu Povo e comigo não foi diferente. Foi difícil a caminhada até aqui, em minhas dores, aflições, medos, angustias, sempre confiei em Deus. É fato que pensei em largar tudo, pois não cabia em tanta dor, porém Deus usa as pessoas, para nos dar algo de bom que é Sua Palavra, meditando-a, observando-a, cheguei até aqui. Muitos ainda serão os problemas que virão. Não tenho mais medo! Aprendi que quando se caminha com Cristo, temos nosso escudo.
Se posso olhar para trás e rever em pensamentos o que vivi, percebo que a vitória e o mérito não são meus, são de Deus. Se hoje posso dizer como convicção meu SIM à Deus, fiz exatamente porque Ele caminhou comigo, esteve comigo, estabeleceu sua morada no meu coração. “O Senhor fez em mim Maravilhas” (Lc 1,49).



Carta dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul ao Governo Federal



177083_3856434298077_666057462_oNós, representantes dos povos indígenas, caciques e lideranças Guarani Ñandeva, Guarani Kaiowá, Terena e Kadiwéu, representantes do Conselho do Povo Terena, Conselho do Aty Guasu, do Conselho Continental da Nação Guarani (CCNG), Conselho Nacional de Educação Escolar Indígen da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) reunidos em Campo Grande, vimos a público exigir que o Governo Federal interceda imediatamente de maneira enérgica com um plano de segurança para os povos indígens no Mato Grosso do Sul.
No último período, as comunidades indígenas da região sofreram ataques inaceitáveis. Os Kadiwéu, cuja terra indígena foi demarcada há mais de 100 anos e homologada há quase 30, tem ao menos 23 fazendas incidindo sobre seu território. No segundo semestre do ano passado, a Polícia Federal realizou reintegrações de posse na área em função de uma liminar da Justiça Federal concedida a fazendeiros. Neste contexto, ameaças e ataques de pistoleiros contra lideranças indígenas foram e são recorrentes.
Em janeiro, famílias Terena da terra indígena Buriti, com 17 mil hectares declarados como território tradicional indígena em 2010 pelo Ministério da Justiça, mas apenas 2 mil ocupados, sofreram ataques de jagunços de fazendeiros. Os conflitos advém da morosidade do Estado em promover a demarcação física dos limites da terra e os sucessivos passos para a homologação do território.
As violências constantes contra os povos Guarani e Kaiowá revelam na dor do nosso povo a incapacidade do governo de demarcar nossas terras e de proteger nossas comunidades. Somente esse ano foram contabilizados ao menos 10 ataques de pistoleiros e fazendeiros contra acampamentos indígenas, culminando na execução do jovem Kaiowá Denilson Barbosa, de 15 anos, do tekoha Tey’ikue, em Caarapó, cujo assassino é o confesso proprietário de uma fazenda vizinha à aldeia.
Além da perseguição de fazendeiros, seguranças e jagunços, também sofremos quando há envolvimento da polícia civil e militar – via de regra comprometida com o latifúndio. Também sofremos o descaso e a difamação nos veículos da grande imprensa local que está a serviço dos fazendeiros e do agronegócio no Mato Grosso do Sul. Estamos cercados, em todos os sentidos.
Exigimos que todos os casos relacionados a direitos indígenas sejam tratados, investigados e julgados pela Justiça Federal e Polícia Federal. Exigimos que o Governo Federal garanta a segurança plena de nossas comunidades indígenas em situação de conflito devido a luta por seus direitos constitucionais.
Denunciamos, também, o comportamento declaramente anti-indígena e preconceituoso dos delegados da Polícia Federal de Dourados Chang Fan e Fernando José Parizoto. Após o assassinato de Denilson e os sucessivos ataques de fazendeiros sofridos pela comunidade do Tey’ikue, lideranças Guarani e Kaiowá foram a Dourados discutir um planejamento emergencial de segurança para a comunidade com a PF. Na presença da Fundação Nacional do Índio, o delegado Fernando Parizoto, de forma arrogante e autoritária, negou aos indígenas o auxílio da Polícia, retrucando que os equivocados nessa história eram os próprios Guarani e Kaiowá que, segundo ele, haviam invadido propriedade privada e seriam investigados por isso. Por temermos mais represálias, perseguições e ambos não terem sensibilidade e clareza para lidar com a questão indígena, exigimos que o Governo Federal os afaste do cargo.
A tudo isso, somam-se os ataques anteriores e toda a violência a qual fomos historicamente submetidos e que resultaram em mortes, empobrecimentos, perda de território e de identidade – quadros que são reforçados quando, na prática, governos ignoram nossas demandas.
Por fim, não nos resta outra alternativa a não ser reafirmar a carta de Pyelito Kue. Estamos preparados para morrer em nossas terras. Não vamos desistir nunca. Vamos retoma-lás uma a uma, fazendo nossa autodemarcação. Basta de impunidade, de fazendeiros assassinos andando à luz do dia, enquanto na terra se abre mais uma cova, que destruiu os sonhos de mais um jovem indígena.
Num contexto em que as comunidades e lideranças ameaçadas, mesmo as que estão sob proteção de programas de governo, não tem segurança; em que todos os nossos assassinos e expropriadores continuam impunes; em que não temos acesso à água, comida, saúde, escola e terra; nós exigimos Justiça. Nossos filhos não podem sofrer como nós já sofremos.
Campo Grande, 25 de fevereiro de 2013
Lideranças Terena, Kadiwéu, Guarani Kaiowá e Guarani Ñandeva


Campanha da Fraternidade 2013 – Juventudes em Pauta




união“Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada.” (Gonzaguinha)






Passadas mais de duas décadas, a Campanha da Fraternidade (CF) volta a ter como tema a Juventude. Com sua vocação profética, a CF não teme denunciar as estruturas que causam a morte, sendo sempre, contudo, momento fértil de anúncio da Boa Nova, do Reino de Deus, da Civilização do Amor.
Assim como em 1992 (ano em que a CF teve como tema a Juventude), é urgente a atenção de toda a sociedade com a vida e as demandas de milhões de jovens do nosso país, que representam quase 30% dos 190 milhões de brasileiros/as. Em 2013, a Campanha da Fraternidade se propõe a“acolher os jovens no contexto de mudança de época, propiciando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz”[1]. Assim, é necessário perguntarmos: como é a vida da população jovem? Quais são as suas grandes demandas?
Condição e Situação Juvenil
A concepção que se tem de juventude e de ser jovem é fruto de um determinado momento histórico, de determinada cultura, de determinadas relações sociais. A noção de juventude pode variar, inclusive, dentro de uma mesma época, dependendo do país, da sociedade, do universo cultural e de questões sócio-econômicas. Além disso, dependendo da área do conhecimento (principalmente na psicologia e na sociologia), há grandes dificuldades na distinção entre adolescência e juventude.
No Brasil, nos últimos anos, devido ao maior debate sobre políticas públicas de juventude, vem se buscando uma melhor definição do tema. Atualmente, considera-se jovem a população entre 15 e 29 anos de idade. Mas apenas a questão etária não é suficiente para abarcar a condição juvenil. Conforme a socióloga Helena Abramo, “trata-se de uma fase marcada por processos de desenvolvimento, inserção social e definição de identidades, o que exige experimentação intensa em diversas esferas da vida. Essa fase do ciclo de vida não pode mais ser considerada, como em outros tempos, uma breve passagem da infância para a maturidade, de isolamento e suspensão da vida social, com a ‘tarefa’ quase exclusiva de preparação para a vida adulta. Esse período se alongou e se transformou, ganhando maior complexidade e significação social, trazendo novas questões para as quais a sociedade ainda não tem respostas integralmente formuladas”.[2]
Porém, viver essa condição, ou seja, viver a experiência de todos esses processos não é algo homogêneo para todas as pessoas entre 15 e 29 anos. Se podemos pensar em uma condição juvenil (que, não esqueçamos, muda de acordo com a sociedade e com o momento histórico), temos que falar em situações juvenis, onde devemos considerar questões como a de gênero, classe, etnia, escolaridade, mundo do trabalho, expressão cultural etc.[3] Nesse sentido, não podemos falar em Juventude, mas em Juventudes, levando em conta, assim, as várias faces do ser jovem, variando com os inúmeros contextos e experiências nas quais os/as jovens estão inseridos, além das diversas formas que se manifestam, seus valores, suas concepções e seus sonhos.
CF 2013 e a Vida das Juventudes
O contexto de desigualdades que vivemos leva um imenso contingente de jovens à privação de direitos, de uma vida digna e de uma formação e desenvolvimento integrais. Já alertava e convocava a CNBB em 2007:
“Face à situação de extrema vulnerabilidade a que está submetida a imensa maioria dos jovens brasileiros, é necessária uma firme atuação de todos os segmentos da Igreja no sentido de garantir o direito dos jovens à vida digna e ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades. (…) Um desafio urgente é garantir que todos os jovens tenham acesso aos direitos fundamentais, numa sociedade marcada por profundas desigualdades sociais, regionais, raciais e de gênero.”[4]
Em todas as áreas sociais, as juventudes sofrem com a ausência ou a insuficiência das políticas públicas. Na educação, por exemplo, levantamento do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que 1,5 milhão de jovens são analfabetos[5]. Em relação aos/às jovens entre 15 e 17 anos, apesar de avanços nos últimos anos, 83% frequentavam a escola em 2011, mas cerca da metade não estava no ensino médio, de acordo com o IBGE[6]. Sobre o ensino superior, também considerando melhorias na última década, apenas 17,6% de jovens entre 18 e 24 anos cursam ou concluíram uma graduação, de acordo com o Censo da Educação Superior 2011 (MEC).
No mundo do trabalho, além de constatarmos a grande quantidade de jovens desempregados, observamos que eles recebem, comparativamente a outras faixas etárias, os menores salários em média, além de ocuparem, em sua grande maioria, os postos mais baixos. Essa situação fica mais aguda quando se trata de jovens mulheres e negras que recebem, em média, os mais baixos vencimentos.
As altas taxas de homicídio no Brasil e o encarceramento em massa atentam cotidianamente contra a promoção de vida digna para as juventudes, onde destacadamente sofre a juventude negra, empobrecida e moradora das periferias. A taxa de homicídios no Brasil vem se mantendo, considerando a população toral, nos absurdos 26 assassinatos por 100 mil habitantes. Segundo o Mapa da Violência 2012[7], tendo como base o ano de 2010, as taxas atingem números chocantes quando consideramos apenas a população jovem, especialmente na faixa entre os 20 e 25 anos. Entre os jovens brancos, a taxa chega à 37,3/100 mil. Já entre os jovens negros, a taxa alcança 89,3/100 mil. Ao mesmo tempo, jovens entre 18 e 29 anos representam mais de 260 mil pessoas do total de encarcerados no Brasil[8], vivendo em condições precárias e humilhantes, como superlotação de celas, ausência de materiais para higiene pessoal, falta de estudo e de trabalho de qualidades, situações diversas de violências, falta de atendimento médico adequado, entre outros.
É imperativo, portanto, transformar a realidade excludente que marca a vida de tantos/as jovens, construindo as condições sociais para que sejam Sujeitos de Direitos. Comungando com a história e a vocação da Igreja na América Latina[9], a CF-2013 é um grande momento de renovarmos a evangélica e profética opção pelos pobres e pelos jovens, caminhando junto com os povos que mais sofrem e construindo uma nova sociedade, pautada pela justiça social e pela fraternidade. Nesse sentido, a CF “Fraternidade e Juventude” destaca:
“Na cultura atual, a noção de ‘direito’ representa a perspectiva da promoção da igualdade efetiva. A função dos direitos é proporcionar garantias das condições para que grupos sociais, como a juventude, possam existir e se desenvolver segundo suas potencialidades e necessidades, sem discriminações e exclusões.
Em relação à juventude, é essencial buscar a igualdade de condições com a valorização da diferença para a manutenção dos direitos de forma plena e libertadora. O desafio é levar a sociedade a perceber os jovens como sujeitos de direitos e protagonistas na promoção e recepção das políticas públicas.”[10]
Quaresma e CF, tempo de conversão
A Campanha da Fraternidade, em todos os anos, é vivida intensamente (não exclusivamente) na Quaresma. O espírito do período quaresmal é, marcadamente, de tempo de conversão, preparação para a festa da Páscoa, onde a Vida triunfa sobre a morte.
A Campanha da Fraternidade, que ocorre desde 1964, nunca se omitiu em denunciar as estruturas de morte que atingem o povo. Seu objetivo sempre foi o de mobilizar a Igreja e o conjunto da sociedade na construção efetiva de uma sociedade que promova a vida, convertendo as ideologias e as estruturas sociais, políticas e econômicas que levam à morte. Podemos tomar como exemplos mais recentes, as últimas CF’s. No ano passado, em 2012, o tema “Fraternidade e Saúde Pública” contribuiu muito para a valorização do SUS e para reafirmar a importância da participação popular na gestão da saúde pública, atuando, especialmente, nos conselhos gestores. Em 2009, com o tema “Fraternidade e Segurança Pública”, a CF denunciou, entre outras coisas, o encarceramento em massa e pautou a necessidade de uma segurança pública baseada nos direitos humanos. No ano de 2003, o tema foi “Fraternidade e Pessoas Idosas”. Essa CF foi determinante, não nos esqueçamos, para a criação, naquele mesmo ano, do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). Isso só para darmos apenas três exemplos da última década.
Nesse ano de 2013, somos chamados a manter esse legado da CF, de compromisso com a Vida e com o povo. Lembremos, assim, das palavras de Dom Leonardo Ulrich Steiner, quando diz que “a Quaresma deve, portanto, vir iluminada pelo desejo de conversão. (…) a CNBB nos apresenta a Campanha da Fraternidade como itinerário de conversão pessoal, comunitária e social”[11]. Desse modo, somos chamados à conversão e ao compromisso pessoal com a causa juvenil, especialmente com a mais desfavorecida e empobrecida. Ao mesmo tempo, somos igualmente convocados à promover a transformação das realidades sociais, políticas e econômicas que não consideram os jovens sujeitos de direitos, em vista da construção de uma sociedade fraterna pautada na vida, na justiça e na paz.
Marcelo Naves,
Agente de Pastoral Carcerária da Arquidiocese de São Paulo, SP



[1] CNBB, Campanha da Fraternidade 2013 – Texto Base, §4 – Objetivo Geral.
[2] ABRAMO, Helena W., O uso das noções de adolescência e juventude no contexto brasileiroin “Juventude e adolescência no Brasil – referências conceituais, org. Maria Virgínia de Freitas. São Paulo, Ação Educativa, 2005. p. 31.
[3] Para o debate sobre condição e situação juvenil, ver: ABRAMO, Helena W., Condição juvenil no Brasil contemporâneoin “Retratos da Juventude Brasileira – Análises de uma pesquisa nacional”, org. Helena W. Abramo e Pedro P. M. Branco. Ed. Perseu Abramo e Instituto Cidadania, 2005.
[4] CNBB, Evangelização da Juventude – Desafios e Perspectivas Pastorais, Documento 85, 2007, ed Paulinas, § 230 e § 234.
[8] Conforme InfoPen, junho de 2012. http://mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdf.
[9] Cf. Conferências Episcopais Latino Americanas de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007).
[10] CNBB, Campanha da Fraternidade 2013 – Texto Base, § 334 e § 335.
[11] CNBB, Campanha da Fraternidade 2013 – Manual, Introdução, p. 7.
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Juventude aprisionada




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Padre Valdir João Silveira
Coordenação da Nacional da Pastoral Carcerária
No Estado de São Paulo, somente no mês de janeiro de 2013, foram presas 10.125 pessoas. No ano de 2012, foram 108.000 pessoas presas em SP; a grande totalidade formada por jovens de 18 a 30 anos. Esse aceleramento de prisões também se reflete em todo o Brasil.
É tempo de rever nossas ações. É tempo de a Igreja, a Pastoral Carcerária, os movimentos sociais, e todos os conselhos ligados à Justiça Penal, verificarem as suas estratégias de trabalho, pois todas as ações até o momento não têm reduzido esta chaga social chamada “encarceramento em massa”!
Mesmo com todas as ações consistentes em seminários, audiências publicas, manifestos, cartas às autoridades, denúncias das violações, trabalho em redes sociais, trabalhos com os movimentos nacionais e internacionais, sequer o sofrimento dos atingidos pelo encarceramento em massa é diminuído. São cada vez mais numerosas as pessoas pressas, os familiares, as pessoas egressas, com danos cada vez maiores não apenas a essas, que são a classe mais vulnerável do sistema, mas à própria sociedade, aflita com uma crescente violência, cujas causas verdadeiras ficam escondidas embaixo das cortinas da mídia sensacionalista e discriminatória.
Vivemos sob a regência de um sistema penal que, ao aprisionar em massa as pessoas mais pobres e privilegiar a minoria mais rica, não infringe nenhuma regra. A Constituição proíbe a pena de morte, mas, na prática, vemos, diariamente, jovens sendo executados nas periferias ou presos em unidades cada vez mais superlotadas e insalubres. A Constituição veda a pena perpétua, mas milhares de pessoas egressas do sistema prisional carregam, pelo resto da vida, o estigma de ter passado pelo violento sistema prisional, com o sério risco de se tornar novamente presa fácil das agências de controle nas periferias do país.
Em uma sociedade tão desigual, tamanho cenário de violência não admite interpretações ingênuas: as políticas de extermínio e de encarceramento em massa são, na prática, a nossa Lei a oferecer sacrifícios humanos com a finalidade de assegurar a manutenção dos bens das pessoas “de bens” da sociedade.
Ao mesmo tempo, a grande massa social, mecanizada pelos meios de comunicação, reproduz o discurso da Lei que prende e aniquila as vidas das pessoas mais frágeis, sem se dar conta do que une todas as populações pobres desse país: em menor ou maior grau, somos todos massacrados para manter e aprofundar as desigualdades geradas por um sistema em que poucos têm muito e exploram os muitos aos quais restam as migalhas e a violência do Poder Público.
Lembremos que Jesus Cristo, o justo, foi preso, condenado e executado no rigor da Lei. Está mais do que na hora de, reconhecendo nos rostos das irmãs e irmãos mortos e encarcerados o rosto de Jesus Cristo desfigurado pelo pecado. É hora é de reagirmos, nossos jovens merecem outro futuro!

“Juventude que ousa lutar, constrói o projeto popular” é o lema do 19º Grito dos Excluídos



Durante a tarde de hoje, 21, em São Paulo, a coordenação do Grito dos Excluídos acolhendo as sugestões de vários grupos, comunidades, dioceses, movimentos, sindicatos, definiu o lema da 19º edição do Grito dos Excluídos: Juventude que ousa lutar constrói o projeto popular.
O Próximo encontro nacional dos articuladores e articuladoras do Grito acontecerá nos dias 26 a 28 de abril , em São Paulo.
O que é o Grito dos Excluídos?
É uma manifestação popular carregada de simbolismo, é um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. Constitui-se numa mobilização com três sentidos: Denunciar o modelo político e econômico que, ao mesmo tempo, concentra riqueza e renda e condena milhões de pessoas à exclusão social; Tornar público, nas ruas e praças, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do desemprego, da miséria e da fome; Propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de inclusão social, com a participação ampla de todos os cidadãos.
É realizado em um conjunto de manifestações realizadas no Dia da Pátria, 7 de setembro, tentando chamar à atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira. Não é um movimento nem uma campanha, mas um espaço de participação livre e popular, em que os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os defendem, trazem à luz o protesto oculto nos esconderijos da sociedade e, ao mesmo tempo, o anseio por mudanças. As atividades são as mais variadas: atos públicos, romarias, celebrações especiais, seminários e cursos de reflexão, blocos na rua, caminhadas, teatro, música, dança, feiras de economia solidária, acampamentos – e se estendem por todo o território nacional.
Semana Social e Grito dos Excluídos
O Grito é parte do processo da 5ª Semana Social Brasileira e no ano passado trouxe o lema: Queremos um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população!
Sobre a participação da juventude a coordenação nacional da 5ª Semana Social Brasileira (SSB) divulgou na última sexta-feira, 15, um vídeo com o objetivo de mostrar como os jovens brasileiros podem se mobilizar no debate do tema “O Estado para quê e para quem?”
Informações [11] 2272-0627, ou acesse www.gritodosexcluidos.org

Juventude e Missionariedade: o que fazer e como?



“Jovens, vocês são templos de Deus, templos do Espírito Santo. No altar dos deuses do mercado, do capital, da droga, dosexismo e do consumismo estão sendo sacrificados milhares de jovens anualmente no Brasil. O Deus da vida chora por causa disso. Todo tanto que fizermos para interrompermos essa matança é pouco. É hora de desmascarar a Idolatria do mercado e do capital”, escreve Frei Gilvander Luís Moreira, padre da Ordem dos carmelitas, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblica, de Roma, Itália; é professor de Teologia Bíblica; assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT -, assessor do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI -, assessor do Serviço de Animação Bíblica – SAB – e da Via Campesina em Minas Gerais, ao descrever as bases para uma Teologia da Missão dos jovens.
Eis o artigo.
“Deixa-me ser jovem, não me impeça de buscar, pois a vida me convida uma missão realizar…”
1. Para início de reflexão
A Campanha da Fraternidade de 2013 será sobre Juventude. Que beleza! Mais do que necessária. Oxalá a juventude da igreja católica e de outras igrejas, as comunidades cristãs da Igreja Católica e de outras igrejas e pessoas de boa vontadedêem as mãos e unam os corações para que a Opção Preferencial pelos Pobres e pelos Jovens se torne uma realidade palpável entre nós, na atualidade, no Brasil.
Pediram-me um texto sobre Juventude e Missionariedade, palavra difícil para dizer “missão dos jovens”. Primeiro, digo que descobri minha vocação e missão de ser frei e padre carmelita em um Grupo de Jovem, em Arinos, Noroeste de Minas Gerais. Isso na década de 70 do século XX. Participei, animei e ajudei na coordenação ou assessoria de vários grupos de jovens em Arinos, MG, em Taguatinga/DF, na Vila Parolim, em Curitiba, PR, nas Favelas do Parque Novo Mundo, em São Paulo, SP. E, em 18 anos de padre e 27 de frei, na assessoria da Comissão Pastoral da Terra, do MST  e de Comunidades Eclesiais de Base, tenho tido a alegria de ser militante de várias causas dos pobres ao lado de muitos jovens militantes de Reino de Deus, um reino que passa por Justiça Social e Justiça ambiental. São jovens que, como Che Guevara e/ou Jesus de Nazaré, sempre se comovem com a dor dos empobrecidos, se fazem solidários e ficam possuídos por uma ira santa diante de toda e qualquer injustiça acontecida contra qualquer pessoa (ou ser vivo) e em qualquer parte do mundo. Logo, acredito na Juventude que se levanta para lutar por vida e liberdade para todos e para tudo. Aliás, está se fortalecendo no Brasil o Levante Popular da Juventude , um Movimento muito idôneo e do qual vale a pena participar.
Para refletirmos sobre a Missão dos Jovens (= Missionariedade) é preciso consideramos a Missão – ou as missões – dos Jovens com relação a várias dimensões que envolvem nossa vida. Jovem não deve desenvolver sua missão só dentro das igrejas. É preciso ser luz, sal e fermento na sociedade e em todos os ambientes. Devemos perguntar: Qual a missão dos jovens diante da Espiritualidade? E da afetividade e da sexualidade? E das questões ambientais? E diante da violência que assola a sociedade, fere e mata milhares de jovens? E na Pastoral nas Igrejas e a partir das igrejas? E com relação à Comunicação? Enfim, qual a missão dos jovens a partir da Bíblia? Mas, antes, quais a/s identidade/s do/s jovem/ns, hoje?
2. Jovem, um dinamismo de vida
O jovem, por natureza, é inquieto, busca, questiona, não aceita verdades prontas, quer participar. Muitos sentem que fazem parte ou querem participar. Quantos jovens são cantores, trovadores, poetas, artesãos, artistas que resistem valorizando a cultura popular e as raízes culturais mais profundas.
A Juventude é – em parte e pode ser cada vez mais – expressão de três belíssimas metáforas do Evangelho do jovem Galileu: luz, fermento e sal. Luz para iluminar caminhos e aquecer corações no meio de tanta escuridão eclesiástica/eclesial, social, política, econômica, existencial e ecológica. Fermento para fermentar muita massa sem fisionomia, amorfa e como folha ao vento. Sal para salgar a realidade eclesiástica, eclesial e social que, infelizmente, padece de muita podridão.
3. Olhando para a história
Para sugerirmos algumas missões e tarefas dos jovens, hoje, faz bem olharmos um pouco para a história da nossa América Afrolatíndia.  Segundo Eduardo Galeano, autor do livro As veias abertas da América Latina – de leitura indispensável – e de muitos outros livros necessários para uma boa compreensão da nossa história, “a América Latina é uma peça fundamental para o enriquecimento das nações dominadoras, restando como conseqüência dessa lógica de exploração imperialista o subdesenvolvimento crônico do nosso continente e as intermináveis crises sociais que vivemos por nunca conseguirmos nos desvencilhar do status de colônia. A riqueza das potências é a pobreza da América Latina.”
Como tem sido a participação da juventude brasileira historicamente? Assim como Zumbi dos Palmares e Dandara, sua companheira, muitos jovens negros fugiram das senzalas e construíram resistência nos quilombos. Lutaram e lutam hoje contra muitos tipos de escravidões. Muitos jovens camponeses participaram ativamente das Ligas Camponesas, sob a liderança de Francisco Julião, um jovem advogado sonhador e aguerrido na luta, para quem a Reforma Agrária seria realizada na lei ou na marra. Muitos jovens participaram da Revolução Estudantil em 1968, anos de chumbo.
Na época da ditadura militar, civil e empresarial (de 1964 a 1985), milhares de jovens foram presos, torturados, exilados e muitos outros desaparecidos. Para conhecer melhor o contexto da época dos anos de chumbo, sugiro a leitura do livro Brasil Nunca Mais e, caso você não os conheça, assistir aos seguintes filmes, dentre outros no mesmo tema: 1) Batismo de sangue, 2) Pra frente Brasil, 3) Cabra Cega, 4) Ação entre Amigos, 5) Zuzu Angel, 6) Hércules 56, 7) Dois Córregos, 8) Nunca fomos tão felizes, 9) O Ano em que meus pais saíram de férias, 10) O que é Isso Companheiro?e 11) Araguaia. São filmes que registraram páginas sangrentas dos anos de chumbo no Brasil, nos fazem entender bem o passado e vivenciar nosso presente e planejar nosso futuro.
Resistência cultural também foi realizada por muitos jovens, tais como, Geraldo Vandré (“Quem sabe faz a hora não espera acontecer…”, Chico Buarque (“Pai, afasta de mim este cale-se…”) etc. O movimento da juventude gerou grandes políticos comprometidos com a libertação dos pobres. Isso sem falar dos carapintadas que contribuíram muito para o Impeachment do presidente Fernando Collor.
3.1 – Década de 60 do século XX até 1989:
A queda do Muro de Berlim, em 09 de novembro de 1989, marcou simbolicamente a derrocada do socialismo real. Desde a década de 60 até a queda do Muro de Berlim vivíamos sob o signo da Utopia da Grande Revolução. Acreditava-se ser possível superar o capitalismo – e o Capital – e construir o socialismo, uma Sociedade para além do Capital. Pensava-se que poderíamos tomar o Poder a partir do Estado e implantar de cima para baixo a justiça social fazendo revoluções – mais do que reformas – agrária, urbana, educacional e política. As revoluções cubana (1959) e nicaragüense (1979) eram exemplos a serem seguidos e fonte de inspiração para se travar a luta contra a injustiça social. Com o assassinato de Presidente Alliende, eleito democraticamente no Chile, em 11 de setembro de 1973, ofuscou-se a estrela do socialismo que estava irrompendo na América Afrolatíndia. Uma série de golpes militares, arquitetados pelo império estadunidense com forte apoio das elites nacionais aconteceram na América Afrolatíndia: Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Brasil etc. Na Argentina, cerca de 30 mil jovens foram assassinados. No Brasil, estima-se que foram cerca de 17 mil.
Com a queda do socialismo real, no pós 1989, as sociedades mergulharam na crise das grandes utopias. Inaugurou-se uma época de fortalecimento do capitalismo neoliberal, melhor dizendo, neocolonial. Veio a onda neoliberal e, como um tsunami, levou de roldão centenas de empresas públicas/estatais. No Brasil, só nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB + DEM), mais de 170 empresas estatais foram privatizadas “a preço de banana”. Um imenso patrimônio do povo foi seqüestrado nas mãos de poucas empresas transnacionais. A Vale do Rio Doce, que valia mais de 100 bilhões de reais, foi entregue apenas por 3,2 bilhões de reais. Há mais de cem ações judiciais questionando a privatização da Vale, mas estão todas engavetadas no Poder Judiciário, poder que, infelizmente, defende mais a propriedade do que a dignidade humana.  Companhias de água, energia, telefonia, siderurgia e etc passaram a ser regidas exclusivamente pelo mercado onde a ganância por lucro máximo não tem fim. Além de priorizar o lucro, essas empresas são responsáveis por danos sociais e ambientais em vista dos empreendimentos de alto impacto que patrocinam irresponsavelmente.
Com o eclipse da Utopia da Grande Revolução, uma grande frustração se abateu sobre a esquerda mundial com a derrocada do socialismo real. Muitos diziam que se tornou impossível superar o capitalismo. Um arauto do neoliberalismo, Fukuyama, chegou a anunciar o “fim da história” ao sugerir que agora não seria mais possível implantar nenhum projeto alternativo ao capitalismo. Se fosse assim, restaria apenas a resignação diante do atual sistema é, na prática, uma máquina de moer vidas. Os capitalistas cantaram vitória. Mas a história não acabou. O monstro que é o capitalismo ruge como um leão, mas tem os pés de barro.
Nesse contexto, o foco passa a ser a construção de micro-revoluções. Trata-se de construirmos um Outro Mundo Possível e necessário, mas debaixo para cima e de dentro para fora, a partir dos pobres, tecendo uma rede de movimentos sociais populares em todos os cantos e recantos, em todas as vilas, favelas, bairros, no asfalto e nos morros, no campo e na cidade. Esse movimento está em curso, liderado em grande parte pelo Movimento de Juventude presentes nos vários Movimentos Populares: MST, MAB , Via Campesina, Movimento Indígena, Movimento Negro, Movimento LGBT, Movimento dos Sem Teto, Movimento de Mulheres etc. A juventude presente nas Pastorais Sociais  também participa ativamente da construção de micro-revoluções.
3.2 – Rápida retrospectiva religiosa
Para entender a/s missão/ões do/s jovem/ns, hoje, temos também que fazer uma rápida retrospectiva religiosa. De 1962 a 1965 aconteceu o Concílio Vaticano II, que abriu a Igreja Católica para os bons ventos do mundo. Muitos dizem que João XXIII, o papa que convocou e abriu o Concílio, na abertura do Concílio teria aberto as janelas do Vaticano e dito: “Que os bons ventos do mundo inundem a Igreja e  oxigene-a internamente.” No Vaticano II a Igreja se reconheceu como Povo de Deus, abriu-se para o ecumenismo e para a inculturação. Os leigos foram valorizados e diálogos com o mundo moderno iniciaram-se. Vários movimentos eclesiais tornaram possível a realização do Concílio e foram fortalecidos pelos Documentos do Vaticano II: Movimento litúrgico, movimento bíblico, movimento leigo, Movimento ecumênico, entre outros.
Quatro conferências dos bispos da América Afrolatíndia contribuíram muito para que os bons ventos do Vaticano II fossem assimilados entre nós. Na Conferência episcopal de Medelin, na Colômbia, em 1968, a Opção pelos Pobres e pelos Jovens foi consagrada. Em Puebla, no México, em 1979, a Opção pelos Pobres e pelos Jovens foi confirmada. Em Santo Domingos, na República Dominicana, em 1992 – quando clamávamos por Outros 500 anos sem opressão, sem colonização, sem imposição cultural e religiosa – a inculturação e o protagonismo das/os leigas/os foi referendado. Em Aparecida, no Brasil, em 2007, na 5ª Conferência episcopal latino-americana, os pontos fortesdeMedelin, Puebla e Santo Domingos foram resgatados e o reconhecimento das Comunidades Eclesiais de Base foi atestado mais uma vez.
Movida e inspirada pela Teologia Política da Europa, a Ação Católica chegou ao Brasil no clima espiritual e profético do Vaticano II. A Ação Católica contava com cinco organizações destinadas aos jovens: JAC, JEC, JIC, JOC, JUC . A JUC ajudou muito na criação da Ação Popular que lutava por Reformas de Base como a reforma agrária.
A Ação Católica contribuiu muito na construção do que é hoje a Pastoral da Juventude. Ajudou muito no nascimento e crescimento das CEBs. O papa Paulo VI continuou o Vaticano II e como pontífice colocou em prática as inspirações e os documentos conciliares. Paulo VI disse: “A melhor forma de amar o próximo é fazer política, pois esta ataca os problemas pela raiz.” Assim, Paulo VI ajudou muito as comunidades cristãs a experimentar a íntima relação que há entre fé e política, entre Evangelho e questões sócio-ambientais.

4. E os jovens na Bíblia?
Para se compreender a Missão dos jovens, hoje, é preciso também contemplar a atuação de muitos jovens que pelo que fizeram e ensinaram se imortalizaram na Bíblia. Cito apenas onze.
1. No livro de Gênesis (Gn 37-50), o jovem José, vendido pelos irmãos, dá a volta por cima e se transforma em um libertador do seu povo e dos seus irmãos.
2. Samuel foi um jovem que soube ouvir a voz de Deus e entrou para a história como um dos iniciadores da profecia (Cf. Samuel 1 a 16).
3. O jovem Davi reuniu os desvalidos da sociedade e liderou uma grande resistência popular que o tornou rei de seu povo. Davi, inclusive, desafiou o “invencível” Golias e dominou. Entrou para a história como um dos três reis bons: Davi,Ezequias e Josias.
4. Amós, um jovem camponês vaqueiro, pequeno agricultor, se tornou o profeta da justiça social. Fervia o sangue de indignação contra a opressão dos latifundiários. Clamava por preços justos para os produtos do campo e por Reforma Agrária. 5. O profeta Jeremias, com apenas 18 anos, se tornou um grande profeta.
6. Bela órfã judia, a jovem Ester, por sua atuação, foi decisiva para livrar seu povo do aniquilamento.
7. O jovem Daniel, exilado na Babilônia com seu povo, tornou-se um dos maiores profetas de todos os tempos.
8. A jovem Maria de Nazaré, por amor, abraçou o projeto de Deus. Arriscou ser apedrejada. Tornou-se solidária e libertadora de seu povo. Acompanhou Jesus de ponta a ponta e depois da paixão e ressurreição de Jesus, eis Maria no meio das primeiras pessoas que fizeram a experiência da ressurreição de Jesus.
9. José, o pai de Jesus, colocado pela tradição como um idoso, deve ter sido enquanto jovem que, por amor, abraçou a “Menina de Nazaré” e, como homem justo, ao lado de Maria, foi decisivo para que Jesus crescesse em estatura, sabedoria e graça.
10. João Batista, ainda jovem, liderou um grande movimento popular-religioso que lutava contra as desigualdades sociais e econômicas. Foi preso e decapitado pelo governador Herodes Antipas, porque estava liderando uma insurreição popular, ameaçava o status quo.
11. Jesus de Nazaré fez história em plena juventude. Foi condenado à pena de morte aos 33 anos, diz a tradição. A entrada de Jesus em Jerusalém (Lc 19,28-40), o que se recorda no Domingo de Ramos, foi organizada e realizada pelos camponeses da Galileia. No meio deles, muitos jovens.
O de número doze é cada um/a um/a de nós que somos carinhosamente convidados por esses e essas jovens da Bíblia a assumir nossa missão e fazermos a diferença, combatendo o bom combate.

5. Missão e tarefas dos jovens, hoje
Considerando as muitas dimensões da pessoa humana, pensamos que a Missão dos Jovens, hoje, deve envolver várias dimensões humanas e levando em conta o abordado anteriormente, entre muitas missões/tarefas que estão clamando para serem abraçadas pelos jovens, hoje, destacamos:
5.1 – Fazer Teologia da Juventude
Teologia não é uma reflexão sobre Deus, mas uma reflexão sobre qualquer assunto a partir da fé no Deus solidário e libertador. Teologia não pode andar no cabresto do papa e nem dos bispos. Não pode ser apologética, isto é, justificadora da Instituição Igreja. A partir do ser jovem, da realidade que é e envolve a juventude precisamos pensar: o que o Deus da vida pede de nós diante de tantos desafios que estão no colo da juventude?
Jovens, vocês são templos de Deus, templos do Espírito Santo. No altar dos deuses do mercado, do capital, da droga, dosexismo e do consumismo estão sendo sacrificados milhares de jovens anualmente no Brasil. O Deus da vida chora por causa disso. Todo tanto que fizermos para interrompermos essa matança é pouco. É hora de desmascarar a Idolatria do mercado e do capital.

5.2 – Promover libertação integral
Intuo que uma das tarefas missionários dos jovens é lutar pela libertação integral das pessoas e de tudo e não apenas por libertação espiritual. No programa de Jesus, em Lc 4,16-21, consta uma libertação política (“libertar os presos”), social e econômica (“anunciar uma boa notícia aos pobres”), libertação ideológica (“restituir a visão”, e espiritual (“proclamar o Ano de Graça do Senhor”). Assim, Jesus resgata o Jubileu Bíblico (Cf. Lev 25,8-12). No ano do Jubileu, toca-se o “berrante” (em hebraico “sofar”), que acontece no primeiro ano após sete vezes sete anos. Neste Jubileu, todas as dívidas devem ser perdoadas; todas as terras devem voltar ao primeiro dono (aos ancestrais); todos os escravos devem ser libertados. Enfim, é tempo de se fazer uma re-organização geral na sociedade; tempo para recriar a Vida e as relações humanas com fraternidade, solidariedade libertadora, reconciliação e novos sonhos.
5.3 – Acreditar na ortopráxis, sim; ortodoxia, não!
Outra missão dos jovens é defender uma ortopráxis (= testemunho libertador), não uma ortodoxia (= opinião certa). O que de fato faz diferença não é tanto o que a gente pensa ou em que acreditamos, mas o que fazemos (ou deixamos de fazer). É hora de compromisso com um outro projeto de sociedade, que seja justo, ecumênico e sustentável ecologicamente.
5.4 – Rever conceitos.
Verdade não é adequação de um conceito a um objeto. Isso é verdade formal. “Verdade é o que liberta todos e tudo”, diz o quarto evangelho da Bíblia. A verdade deve ser buscada conjuntamente. Ninguém é dono da verdade, mas verdade como o que liberta deve ser buscada a partir dos pobres (últimos, pequenos, discriminados): pobre, excluído, sem terra, indígenas, negros, pessoas com deficiências, idosos, desempregados, homossexuais, mãe terra, irmã água, favelados, vítimas da violência etc.
5.5 – Sentir-se igreja, membro vivo de uma comunidade de fé libertadora.
“Igreja é Povo de Deus”, nos ensina o Vaticano II. È hora de percebermos que o sacerdócio comum está acima do sacerdócio ordenado. Os jovens não podem aceitar uma relação que os coloquem como infantis e em uma postura de quem só deve obedecer. Nada disso. Os jovens têm o direito e o dever de dialogar, discutir e reivindicar o direito de decidir conjuntamente todos os assuntos que envolvem a vida da comunidade cristã e da sociedade.
É hora de perceber que a coisa sagrada é também profana. Profanar é retirar do uso exclusivo para dar acesso a todos.Pro-fanar vem do verbo grego faneo, que quer dizer “brilhar”. Ou seja, que o brilho do sagrado seja estendido a todos sem distinção e sem nenhuma discriminação. É hora de gritar “Não a todo e qualquer dualismo!” Não há separação entre espiritual e material, entre sagrado em profano, entre divino e humano, entre santo e pecador, entre puro e impuro etc. Tudo está intimamente relacionado.
Jesus não morreu na cruz porque Deus quis, mas foi condenado à pena de morte pelos podres poderes político-econômico e religioso.
Jesus doou sua vida por todos e tudo. Jesus nos salva porque nos amou demais e não porque sofreu demais.
Jesus não nasceu Cristo, mas tornou-se Cristo, pois conseguiu desenvolver o infinito potencial de humanidade que cada pessoa traz consigo ao chegar a este mundo. “Jesus foi tão humano, tão humano, que só podia ser Deus”, disse o papa Paulo VI.
Milagre não é algo fruto de um poder extraordinário que está acima do humano. Milagre é uma maravilha de Deus, conforme diz o Primeiro Testamento da Bíblia. Milagre é um gesto solidário e libertador de Deus agindo nas entranhas da história.
Deus não é juiz, pois Deus é amor. Ou melhor, o amor é Deus.
Deus não é transcendente, mas transdescendente. Na Bíblia, de ponta a ponta, vemos a imagem de um Deus apaixonado pelo humano.
Deus não é neutro diante dos conflitos. Deus faz opção preferencial pelos pobres (cf. Ex 3,7-10).
Não existe inferno, nem purgatório e nem limbo como locais destinados aos pecadores, como descrito de forma tradicionalista por muitos nas igrejas. Satanás (satã, em hebraico) ou diabo (diabolos, em grego) não são entes abstratos, um deus negativo que faz oposição ao Deus da vida. Satanás (diabo) é tudo o que divide, separa, desune, oprime, exclui, discrimina e depreda. Pode ser uma dimensão interior nossa, mas em uma sociedade capitalista neoliberal como a nossa, trata-se prioritariamente de estruturas e instituições que oprimem, excluem e depreda a natureza. Podemos dizer que o agronegócio é satânico, pois concentra riqueza em poucas mãos, expulsa os pequenos do campo e devasta a biodiversidade. Uma democracia burguesa formal que não respeita a Constituição Brasileira e pisa na dignidade das pessoas é uma falsa democracia, algo também satânico.
Ser cristão implica ser anticapitalista. Não dá para compactuar com os pretensos valores do capitalismo: concorrência, competição, acumulação, lucrar e lucrar. Ser cristão é ser outro Cristo, alguém que consola os aflitos, mas que também incomoda os acomodados. Tarefa da pessoa cristã é buscar vida e liberdade para todos e tudo – e não apenas para alguns – mas a partir dos últimos.
5.6 – Comprometer-se com a Opção pelos pobres e pelos jovens
O apóstolo Paulo, ao escrever sobre o Concílio de Jerusalém, acontecido por volta dos anos 49/50 do 1º século diz que a circuncisão, a maior de todas as barreiras, tinha sido abolida e que a única coisa que os apóstolos fizeram questão de alertar foi: “Não esqueçam os pobres.” (Gal 2,10) Esse alerta deve ser acolhido pelos jovens também. Mas faz bem ter um bom entendimento sobre quem é pobre. Primeiro, o carente economicamente. Depois, a mulher, o indígena, o negro, o homossexual, a divorciada, a mãe terra, a irmã água, o meio ambiente.
A Teologia da Libertação não vê o pobre apenas como um poço de carência, como um coitado, mas, principalmente, como um portador de força ética e espiritual. Deus age a partir dos pequenos. A Teologia da Libertação acredita que “o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor”, conforme dizia Dom Hélder Câmara, o santo rebelde.
6. Enfim…
Contamos com os jovens, como protagonistas de sua história, para vivenciar a Opção preferencial pelos Pobres e pelos Jovens, buscar alternativas para a superação da atual crise sócio-política-econômica-cultural e religiosa. Apoiar firmemente a Economia Popular Solidária, as lutas pela Reforma Agrária, por agricultura familiar, por preservação ambiental, pela mudança do atual modelo econômico neoliberal. Queremos um modelo econômico que seja popular, democrático, soberano, inclusivo e sustentável ecologicamente. Queremos construir um outro modelo de igreja, onde, de fato, igreja seja povo de Deus, em comunidades que se relacionam em sistema de rede.

Apêndice
Sugestão: textos e eventos bíblicos libertadores que podem inspirar a Missão dos jovens:
1)    Gn 1: Toda a Criação é muito boa, imagem e semelhança de Deus.
2)    Ex 1,15-22: O Movimento das parteiras faz Desobediência civil e religiosa. Cf. Gandhi, Martin Luther King, as camponesas da Via Campesina.
3)    Ex 3,7-10: Deus opta pelos pobres.
4)    Davi vence Golias.
5)    Is 65,17-25: Eis um novo céu e uma nova Terra.
6)    Dn 2,31-37: Uma pedrinha destrói um gigante de pés de barro – a força da profecia.
7)    Jo 6,1-15: Solução radical para a fome de pão – partilha de pães.
8)    Mt 21,12-13: Jesus expulsa os capitalistas do Templo.
9)    Jovens camponeses, João Batista e Jesus se tornam líderes de libertação.
10)    Ap 12,1-17: Uma mulher grávida, em dores de parto, vence um Dragão.
11)    At 21,1-7: Deus deixa o céu e arma sua tenda no meio dos pobres.










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Unir a Juventude Brasileira: “Se o presente é de luta, o futuro nos pertence”!





540984_582509255109870_1176252851_nAs entidades estudantis, as juventudes do movimento social, dos trabalhadores/as, da cidade, do campo, as feministas, as juventudes políticas, as juventudes religiosas, jovens dos coletivos de cultura, das redes e das diversas ruas estão reunidos movidos por um ideal: mudar o Brasil e conquistar mais direitos para juventude.
É preciso denunciar que em todo o Brasil a juventude negra é chacinada nas periferias e o que lhe é oferecida é mais violência por parte do estado que a abandona, mas não apenas a ela. O campo que alimenta a cidade segue órfão dos investimentos públicos que poderiam atrair a juventude, que de lá é expulsa pela concentração de terras, e encontra na cidade a poluição, a precarização no trabalho, a ausência do direito de organização sindical, os mais baixos salários e o desemprego.
Essa é a dura realidade da maioria da População Economicamente Ativa no país, e não as mentiras da imprensa oligopolizada, que foi parceira da Ditadura na ideologia que nos vendeu o Milagre Brasileiro e por ela foi beneficiada para  encobrir torturas e assassinatos. É coerente que ela se oponha à Verdade a Justiça, que se cale ante as torturas e ao extermínio dos pobres e negros dos dias de hoje, que busque confundir e dopar a juventude, envenenando a política, vendendo-nos inutilidades, reproduzindo os
valores da violência, da homofobia, do machismo e da intolerância religiosa. Mas eles não falam mais sozinhos, e estamos aqui pra fazer barulho.
Queremos reformas estruturais que garantam um projeto de desenvolvimento social, solidário, que rompa com os valores do patriarcado, que abram caminhos ao socialismo: todos e todas com direito pleno à educação, Trabalho Decente, com liberdade de organização sindical, com Verdade e Justiça para nossos heróis mortos e desaparecidos, com Reforma Agrária e investimentos para o campo florescer também para as pessoas. Que nas cidades, longe de racismo, violência e intolerância, tenhamos um Estado laico, democrático, inclusivo, que respeite os direitos humanos fundamentais, inclusive aos nossos corpos, ao meio ambiente, à religiosidade e à liberdade de orientação sexual.
Não nos deteremos aonde os governos param. Iniciamos aqui uma caminhada de unidade e luta por reformas estruturais que enterrem o neoliberalismo e resguardem a nossa democracia dos retrocessos que preparam os monopólios da mídia, ou pelos golpes institucionais (seja no Paraguai, na Venezuela, Honduras ou no Brasil).
Fruto das três reuniões nacionais já ocorridas propomos nos unirmos em torno da defesa de uma plataforma sobre os seguintes pontos:
1. Educação: Financiamento público da Educação
1.1. 10% PIB para educação
1.2. 100% dos Royalties e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para educação
1.3. Democratização do acesso e da permanência na universidade
1.4. Educação do campo
1.5. Cotas raciais e sociais nas universidades estaduais
1.6. Curricularização da extensão universitária
1.7. Regulação e ampliação da qualidade, em especial, do setor privado
1.8. Combate à desnacionalização do ensino
2. Trabalho
2.1. Redução da jornada de trabalho
2.2. Condições dignas de trabalho/trabalho decente
2.3 Políticas que visem a conciliação entre trabalho e estudos
3. Democracia: Reforma política
3.2. Distribuição de renda
3.3. Contra a judicialização da politica e criminalização dos movimentos sociais