sábado, 7 de julho de 2012

5 coisas que Dom Quixote da Mancha pode ensinar aos cristãos



Dom Quixote é uma história que me impressionou muito em muitos aspectos, especialmente pela forma descontraída e leve de lidar com problemas da sociedade da época. Em Dom Quixote, Cervantes conta a história de um fidalgo que, após anos lendo história de cavalaria, resolve sair pelo mundo como cavaleiro andante. Para tanto chama um escudeiro, Sancho Pança e elege uma musa inspiradora, Dorotéia do Toboso. Após ler suas aventuras, resolvi escolher cinco em que dom Quixote poderia nos ajudar, enquanto cristãos, no apostolado:
1.Determinação
Em sua curta carreira de cavaleiro andante, Dom Quixote esperava encontrar uma aventura a cada dia. Não obstante viver num mundo fantasioso onde moinhos de vento tornavam-se gigantes cruéis e um rebanho de ovelhas um exército em batalha, Dom Quixote levava sua determinação às últimas consequências. Ele não ligava se todos o tomavam por louco ou se sempre saia machucado das confusões que se metia. Nenhuma frase é tão certa para o Quixote quanto o antigo adágio romano que diz: ”Os livros possuem uma vida própria”. Ávido leitor das novelas de cavalaria, Dom Quixote trouxe os livros para a sua vida. Já pensou se nós cristãos resolvêssemos, ainda que nos chamassem de loucos ou saíssemos machucados, trazer o Evangelho para o mundo com tanta determinação?
2.Construção de ideais
Amadis de Gaula, Amadis de Grécia, os Doze Pares de França, etc. Todos esses eram modelos para o nosso Cavaleiro atrapalhado. Dom Quixote via nas histórias que lera e sobretudo no passado o ensinamento necessário para que as coisas de sua época pudessem ser melhores. Em outras palavras, ele percebia que o contexto em que vivia carecia de homens honrados, disciplinados, obedientes, caridosos e religiosos como os cavaleiros andantes que existiram (?). Dessa forma, assumiu o firme compromisso de trazer essa época de ouro de volta da forma mais simples e eficaz que se pode ter: fazendo a sua parte. Se dom Quixote não tivesse construído grandes ideias talvez permanecesse como um fidalgo acomodado lendo livros de cavalaria até os seus últimos dias. Mas seus ideais não só existiram como uma ideia abstrata; eles tornaram-se tão grandes que fizeram com que um homem de cinquenta e poucos anos saísse de sua casa à procura de aventuras que pudessem inserir seu nome entre os famosos cavaleiros andantes. Fazer ideias tornarem-se concretas é o discipulado exemplar do Verbo que se fez Carne.
3.O poder da amizade
Não podemos deixar de falar no intenso laço de amizade que formou-se entre Dom Quixote e Sancho Pança. Por mais que a condição e as regras da cavalaria distanciassem Cavaleiro e escudeiro, Sancho provou que o amor acaba permeando a regra sem destruí-la (como o ar que está em todos os lugares). Quando poucos acreditariam num plebeu transportador de cargas como Sancho Pança, Dom Quixote fez com que seu fiel escudeiro fosse digno da ilustre tarefa de ser escudeiro de um cavaleiro andante. E de modo inverso, quando todos riam-se das loucuras de Dom Quixote, Sancho via inteligência e potencial. Um acreditava no outro porque um laço forte como o da amizade os unia. Mais que a ilha que dom Quixote prometera  por seus serviços, Sancho queria retribuir de alguma forma a confiança que seu senhor depositara nele. Assim, um cuidava do outro diante das confusões que a dupla se metia, pois “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13)
4.Solidariedade
Ontem, numa aula de direito do trabalho, o professor falava sobre responsabilidade solidária das empresas. Nessa responsabilidade, segundo ele, “todas as pessoas jurídicas do grupo empresarial dividem igual responsabilidade, para o bem ou para o mal”. Para ilustrar o que disse, perguntou à turma o que significava a palavra “solidariedade”. Alguns responderam “ajudar o próximo”, outros “partilhar”, outros ainda “dividir”. O professor sintetizou as respostas em “estar junto”. Em meio a tantos conceitos, para ilustrar os aprendizados de Dom Quixote, inseriria também o conceito de compaixão. Dom Quixote estava junto e compadecia-se da situação das pessoas que encontrava pelo caminho. Ele queria ajudar principalmente os fracos, oprimidos e as donzelas, mas nem por isso perdia o interesse pelas histórias de vida que lhe contavam.
5.Protagonismo
Ontem mesmo li uma excelente frase do padre Antônio Vieira que ilustra bem a mentalidade de Dom Quixote: “O Senhor nunca se serve dos menos bons, senão por descompromisso dos melhores”. Assim, dom Quixote não espera que os bons se manifestem. Em sua simplicidade ele faz de tudo para que o seu grande ideal de trazer a cavalaria andante aos seus dias de glória seja efetiva. Na história, Deus mesmo escolheu muitas pessoas humanamente incapazes para exercer um papel importante na história: carpinteiros, analfabetos, prostitutas, etc. Esses, ignorando toda a maré contrária que se levantava, mostraram que a força e a capacidade só estavam adormecidas dentro de cada um. Despertar o protagonista que existe dentro de cada um parece que ser uma tarefa inerente à história de Dom Quixote. Nessa história não há espaço para lamentações. Cabe a cada um assumir seu papel e ”nunca ficar implorando por aquilo que você tem o poder de obter.”

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