Eduardo da Amazônia
Representante Estadual da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/Aids - Pará
O
princípio da valorização do protagonismo é a escuta, se eu não faço
isso, eu não só comprometo a autonomia do jovem, como eu envelheço
precocemente a humanidade.
Quem
são os(as) adolescentes e jovens? Esta pergunta deve ser feita
inicialmente a quem se propõe a trabalhar com/para a juventude. Ainda
que possa parecer complexa, não há como começar qualquer trabalho com
este público sem minimamente conhece-lo. E para isto, torna-se
necessário um exercício de escuta, conforme sugere Rubem Alves em
“Escutatória"[1].
As
características biopsicossociais entram em conflito com o tempo e o
espaço, definindo um conjunto de conceitos que possa identificar estas
etapas tão próximas, mas que também possuem especificidades. No Brasil,
conforme a lei que dispõe sobre o ECA – Estatuto da Criança e do
Adolescente, a adolescência compreende a etapa entre doze e dezoito
anos[2]. Já as ações voltadas à juventude compreendem de 15 a 29
anos[3].
Num
paralelo ao artigo do teólogo e escritor Leonardo Boff sobre
sustentabilidade[4], os(as) adolescentes e jovens podem ser tratados(as)
como adjetivos (pode ser agregada a qualquer coisa sem mudar a natureza
da coisa) ou substantivos (exige uma mudança na natureza da coisa). Sua
capacidade transformadora vem sendo ofuscada por estereótipos: padrão
de beleza, reprodutora da violência, alienada/alienante ou descartável.
Com isso, o hedonismo de alguns pelo poder, empurra muitos(as) à
criminalidade, a prostituição, a gravidez precoce, ao tráfico, dentre
outros problemas sociais.
Em
contrapartida, o reconhecimento dos(as) adolescentes e jovens como
sujeitos de direito, se dá a partir da compreensão e valorização de seu
PROTAGONISMO. De origem latina (“protos” que significa principal,
primeiro e “agonistes” lutador, competidor) protagonismo se refere a
participação ativa de modo a intervir no meio em que atua. Protagonizar
não é estado (status), mas sinônimo de ação.
Porém,
para quem se propõe a promover a autonomia juvenil, evitar-se-á
dependência ou tutela, onde as decisões giram a partir ou em torno de
uma pessoa, mesmo que este(a) seja um(a) adolescente ou jovem. Ninguém
protagoniza por ninguém, mas é uma ação individual com/para o coletivo.
“A idéia é que o protagonismo juvenil possa estimular a participação
social dos jovens, contribuindo não apenas com o desenvolvimento pessoal
dos jovens atingidos, mas com o desenvolvimento das comunidades em que
os jovens estão inseridos”[5].
Tornar
protagonista uma população silenciada na história nos fará escutar
gritos evidentes. Farão-nos perceber que propostas superficiais como a
redução da maioridade penal, além de aumentar a violência e o extermínio
de jovens, não resolverá o problema da (in)segurança pública. Pelo
contrário, irá calar a voz de quem pode trazer a mudança que o mundo
espera acontecer.
_________________________________
[1] Artigo publicado no Correio Popular em 09/04/1999. http://www.rubemalves.com.br/10mais_03.php.
[2] Confira em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm.
[3] Emenda Constitucional de Nº 65, de 13 de julho de 2010 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm.
[4] BOFF Leonardo. Sustentabilidade: adjetivo ou substantivo?
Em: http://leonardoboff.wordpress.com/2011/06/07/sustentabilidade-adjetivo-ou-substantivo/.
Em: http://leonardoboff.wordpress.com/2011/06/07/sustentabilidade-adjetivo-ou-substantivo/.
[5] BRENER Branca Sylvia, “O que é Protagonismo Juvenil?”http://www.promenino.org.br/Ferramentas/Conteudo/tabid/77/ConteudoId/5649e039-9334-482f-9431-d9059a580ad3/Default.aspx.
Eduardo Soares (Eduardo da Amazônia)
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